O joo do anjo Carlos Ruíz Zafón - O Jogo do Anjo | Page 27

PDL – P ROJETO D EMOCRATIZAÇÃO DA L EITURA acariciei sua pele com as maçãs do rosto. Nessa altura, já tinha esquecido quem era e onde estava. Ela se ajoelhou diante de mim e pegou minha mão direita. Languidamente, como um gato, lambeu meus dedos um a um. Depois, olhou-me fixamente e começou a tirar minha roupa. Quando quis ajudá-la, sorriu e afastou minhas mãos. — Shhhh. Quando terminou, inclinou-se para mim e lambeu meus lábios. — Agora você. Dispa-me. Devagar. Bem devagar. Soube então que tinha sobrevivido à minha infância enfermiça e lamentável apenas para viver aqueles segundos. Vagarosamente, eu a despi, descobrindo a pele até que, sobre seu corpo, restou apenas a fita de veludo em torno da cinta e aquelas meias negras de cuja lembrança um infeliz como eu poderia manter por cem anos. — Acaricie-me — sussurrou a meu ouvido. — Brinque comigo. Acariciei e beijei cada centímetro de pele como se quisesse memorizá-lo por toda a vida. Chloé não tinha pressa e respondia ao toque de minhas mãos e meus lábios com suaves gemidos que me guiavam. Em seguida, estendeu-me cima, cobriu meu corpo com o seu, e senti que todos os poros de minha queimavam. Pousei as mãos em suas costas e percorri a linha milagrosa que marcava sua coluna. Seu olhar impenetrável me observava a apenas alguns metros do meu rosto. Senti que precisava lhe dizer algo... — Meu nome... — Shhhh. Antes que pudesse dizer mais alguma bobagem, Chloé pousou seus lábios sobre os meus e, pelo espaço de uma hora, me fez esquecer o mundo. Consciente de minha inabilidade, mas sem deixar que eu percebesse, Chloé antecipava um de meus movimentos e guiava minhas mãos por seu corpo sem pressa nem pudor. Não havia enfado nem ausência em seus olhos. Deixava-se levar e frear com infinita paciência e uma ternura que me fez esquecer como tinha chegado ali. Naquela noite, pelo breve espaço de uma hora, aprendi cada linha de seu corpo como outros aprendem preces ou condenações. Mais tarde, quase sem fôlego, Chloé me deixou apoiar a cabeça em seu colo e acariciou meu colo durante um longo silêncio, até que adormeci em seus braços, com as mãos entre suas coxas. Quando despertei, o quarto permanecia na penumbra e Chloé tinha desapacido. Sua pele já não estava em minhas mãos. Em seu lugar, havia um cartão de visita impresso no mesmo pergaminho branco do envelope que trouxe o convite, no qual, sob o emblema do anjo, lia-se o seguinte: