O joo do anjo Carlos Ruíz Zafón - O Jogo do Anjo | 页面 13

PDL – PROJETO DEMOCRATIZAÇÃO DA LEITURA
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Minha estréia na literatura sobreviveu ao batismo de fogo, e dom Basilio, fiel à sua palavra, realmente me deu a oportunidade de publicar mais um ou dois contos de perfil semelhante. Logo depois, a diretoria resolveu que minha fulgurante carreira teria periodicidade semanal, desde que continuasse a desempenhar pontualmente minhas tarefas na redação e, pelo mesmo preço, claro. Intoxicado de vaidade e cansaço, passava meus dias revisando os textos dos colegas e redigindo incontáveis colunas de crimes e horrores. Em seguida, reservava as noites para escrever, sozinho na sala da redação, o folhetim bizantino e operístico que acalentava há tempos na imaginação e que, sob o título de Os Mistérios de Barcelona, misturava despudoradamente de Dumas até Stoker, passando por Sue e Féval. Dormia umas três horas por dia e ostentava a aparência de quem passava as noites num caixão. Vidal, que nunca conheceu essa fome que nada tem a ver com o estômago e que devora a pessoa por dentro, achava que eu estava queimando os miolos e que, no ritmo em que ia, celebraria meu próprio funeral antes dos 20 anos. Dom Basilio, que não se escandalizava com tanto esforço, tinha outras reservas. Publicava cada episódio muito a contragosto, incomodado pelo que considerava uma patologia excessiva e um aproveitamento infeliz de meu talento a serviço de argumentos e tramas de gosto muito duvidoso.
Os Mistérios de Barcelona trouxeram à luz uma pequena estrela da ficção em capítulos, uma femme fatale imaginada como só se é capaz de fazê-lo aos 17 anos. Minha heroína, Chloé Permanyer, era a princesa soturna de todas as vampiras. Muito inteligente e ainda mais complicada, Chloé Permanyer fazia questão de usar o que havia de mais incendiário e requintado em matéria de lingerie e atuava como amante e mão esquerda do enigmático Baltasar Morel, cérebro do submundo que vivia numa mansão subterrânea povoada de robôs e relíquias macabras, cuja entrada secreta ficava nos túneis escavados sob as catacumbas do Bairro Gótico. O método preferido de Chloé para liquidar suas vítimas era seduzi-las com uma dança hipnótica, despindo-se lentamente de todos os seus adornos para, em seguida, beijá-las com um batom envenenado que paralisava todos os músculos do corpo e as matava asfixiadas, em silêncio, enquanto ela as fitava, olhos nos olhos. Para proteger-se, bebia previamente um antídoto dissolvido em champanhe Dom Pérignon da mais fina reserva. Chloé e Baltasar tinham seu próprio código de honra: só liquidavam a escória, limpando o mundo de fanfarrões, vermes, falsos santos, fanáticos,