Angústia. Um ano depois, dá à estampa – As Etapas no Caminho
da Vida e, em 1846, o Post-Scriptum a Migalhas Filosóficas.
Os paradoxos da existência religiosa, para este filósofo, assu-
mem o caráter socrático do autoconhecimento e a reflexão acerca
do indivíduo diante da verdade cristã. Kierkegaard elabora seu
pensamento, tendo em vista o exame concreto do homem religioso
historicamente situado, o que o eleva à condição de fundador
do existencialismo.
Desde a década de 1850, Kierkegaard foi tomado por um surto
de reformador da moral teológica, passando a atacar a prática
religiosa vigente na Dinamarca, onde o poder estatal se sobrepu-
nha ao poder religioso. Mas Soren, infelizmente, veio a falecer em
outubro de 1855.
As inquietações e angústias, que o acompanharam, estão
expressas em seus textos, incluindo a relação dolorosa que
manteve com o Cristianismo – herança de um pai extremamente
religioso, que cultuava os rígidos princípios do Protestantismo, o
qual, na Dinamarca de meados do século dezenove, foi transfor-
mado em fundamentalismo religioso controlado pelo Estado.
A posição de Kierkegaard leva alguns estudiosos a levantar
dúvidas a respeito do caráter filosófico de seu pensamento. Para
estes, tratar-se-ia muito mais de um pensador religioso do que de
um filósofo.
Nele não encontramos as motivações tradicionais que servi-
ram de objeto para a Filosofia. Isso fica claro quando ele reage às
filosofias de sua época – em especial à de Hegel. Não se trata de
questionar as incorreções ou as inconsistências do sistema hege-
liano. Trata-se muito mais de rebelar-se contra a própria ideia de
sistema e aquilo que essa ideia representa.
Para este pensador, o homem que se reconhece finito enquanto
parte da realização de uma totalidade infinita, se compraz na
finitude, porque a vê como uma etapa de algo cujo sentido é infi-
nito. Mas o homem que se coloca frente ao seu destino e à sua
finitude, desnudado do aparato lógico, não se vê diante de um
sistema de ideias mas diante de fatos, mais precisamente de um
fato fundamental que nenhuma lógica pode explicar: a Fé. Ela
não é o sucedâneo daquilo que não podemos compreender racio-
nalmente; tampouco é um estádio provisório do que existe
enquanto não se completam e fortalecem as luzes da razão.
Soren Kierkegaard
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