Contudo, “o rompimento com a contemplação foi consumado não
com a promoção do homem fabricante à posição antes ocupada
pelo homem contemplativo, mas com a introdução do conceito de
processo na atividade da fabricação”. (CH, p. 314).
O labor passa a ser tão importante na era moderna porque se
coaduna com a concepção de processo vital, uma interminável
vitalidade que se torna coletiva: “quando a reprodução da vida
individual é absorvida pelo processo vital da espécie humana,
pode o processo vital coletivo de uma ‘humanidade socializada’
atender à sua própria ‘necessidade’, isto é, seguir o seu curso
automático de fertilidade, no duplo sentido da multiplicação de
vidas e da crescente abundância de bens que elas exigem.” Assim,
a filosofia do trabalho de Marx teria lugar num conjunto de teorias
científicas que têm em comum o conceito de processo. Segundo
Arendt, “como a descoberta dos processos pelas ciências naturais
coincidira com a descoberta da introspecção na filosofia, nada
mais natural que o processo biológico existente dentro de nós
fosse tomado como modelo do novo conceito”. (CH, p. 129).
O labor dominou a concepção de trabalho e de economia na
era moderna. Para Locke, era a fonte de toda propriedade. Para
Adam Smith, a fonte de toda riqueza. O “system of labor”, portanto,
passou a designar a origem de toda produtividade e a expressão
mesma da humanidade (CH, p. 113). E é nos desdobramentos da
atitude de Marx em relação ao trabalho – ao labor – que Arendt
identifica sua maior contradição, seu equívoco. A “libertação” do
labor pela revolução significaria a libertação do homem de sua
natureza; sua produtividade em sua própria constituição bioló-
gica não seria mais necessária. Conclui Arendt: “Resta-nos a
angustiosa alternativa entre a escravidão produtiva e a liberdade
improdutiva”. (CH, p. 117).
Como um indivíduo de seu tempo, Mar