O imprevisível 2018 PD49 | Page 141

Contudo, “o rompimento com a contemplação foi consumado não com a promoção do homem fabricante à posição antes ocupada pelo homem contemplativo, mas com a introdução do conceito de processo na atividade da fabricação”. (CH, p. 314). O labor passa a ser tão importante na era moderna porque se coaduna com a concepção de processo vital, uma interminável vitalidade que se torna coletiva: “quando a reprodução da vida individual é absorvida pelo processo vital da espécie humana, pode o processo vital coletivo de uma ‘humanidade socializada’ atender à sua própria ‘necessidade’, isto é, seguir o seu curso automático de fertilidade, no duplo sentido da multiplicação de vidas e da crescente abundância de bens que elas exigem.” Assim, a filosofia do trabalho de Marx teria lugar num conjunto de teorias científicas que têm em comum o conceito de processo. Segundo Arendt, “como a descoberta dos processos pelas ciências naturais coincidira com a descoberta da introspecção na filosofia, nada mais natural que o processo biológico existente dentro de nós fosse tomado como modelo do novo conceito”. (CH, p. 129). O labor dominou a concepção de trabalho e de economia na era moderna. Para Locke, era a fonte de toda propriedade. Para Adam Smith, a fonte de toda riqueza. O “system of labor”, portanto, passou a designar a origem de toda produtividade e a expressão mesma da humanidade (CH, p. 113). E é nos desdobramentos da atitude de Marx em relação ao trabalho – ao labor – que Arendt identifica sua maior contradição, seu equívoco. A “libertação” do labor pela revolução significaria a libertação do homem de sua natureza; sua produtividade em sua própria constituição bioló- gica não seria mais necessária. Conclui Arendt: “Resta-nos a angustiosa alternativa entre a escravidão produtiva e a liberdade improdutiva”. (CH, p. 117). Como um indivíduo de seu tempo, Mar