ções construir padrões razoáveis de tolerância à diversidade ideo-
lógica, religiosa, racial e de gênero.
6. São as leis que regulam nossas vidas em sociedade, fundam
e garantem a manutenção do Estado, que delegamos, por meio do
voto, a uma elite política que irá nos representar na gestão do
Estado e no atendimento das demandas sociais fundamentais,
bem como regular a forma como a economia produzirá riquezas
– e as distribuirá.
7. Sem uma ação política permanente e articulada da socie-
dade sobre a elite política corre-se o risco de termos leis que
preservem privilégios para poucos, em detrimento da grande
maioria da população – mantendo inaceitáveis níveis de exclusão
social. Eis aí uma outra vertente fundamental para uma socie-
dade democrática: o exercício da cidadania. No caso do Brasil,
estamos acostumados a eleger nossos representantes algumas
vezes com paixão, outras por pura e entediante obrigação, mas
são raros os eleitores que, nesse ato, são movidos por um sentido
de responsabilidade cidadã – implicando aí uma forte vigilância
sobre seu representante, que vai muito além do voto.
8. Diante de tudo isso, quando olhamos para o caso do Brasil,
assim como para os países da América Latina, percebe-se a enorme
distância dos valores e práticas democráticas, se comparados às
consolidadas democracias ocidentais. Estamos aprisionados na
armadilha histórica de uma sociedade radicalmente dividida pela
pobreza, e carente de um recurso fundamental para romper os
grilhões que aprisionam milhões de brasileiros. Eis aí o terceiro
vetor fundamental para uma nação democrática: a educação.
9. Como todo sistema humano, a democracia tem seu calca-
nhar de Aquiles ou falha estrutural. As conquistas já consolida-
das podem sofrer regressões ou, o que é pior, a democracia pode
ser corroída por dentro, dependendo de como os eleitores definem
suas lideranças, e sobre elas depositam excessiva confiança. São
vários exemplos, como a Alemanha nazista e, mais recentemente,
a Venezuela com seu bolivarianismo tupiniquim. A consolidação
estrutural da democracia não é algo linear e irreversível, ao longo
do tempo. Ao contrário, é um processo árduo e cheio de incertezas
e desafios, que se conquista e se passa de geração para geração,
como um valioso legado civilizatório. É prática política em estado
vivo, que pode transformar a sociedade e nossas vidas. Todos
somos sujeitos e objetos dessa transformação. Todos somos desa-
fiados a agir na construção do nosso destino.
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João Rego