O imprevisível 2018 PD49 | Page 66

ções construir padrões razoáveis de tolerância à diversidade ideo- lógica, religiosa, racial e de gênero. 6. São as leis que regulam nossas vidas em sociedade, fundam e garantem a manutenção do Estado, que delegamos, por meio do voto, a uma elite política que irá nos representar na gestão do Estado e no atendimento das demandas sociais fundamentais, bem como regular a forma como a economia produzirá riquezas – e as distribuirá. 7. Sem uma ação política permanente e articulada da socie- dade sobre a elite política corre-se o risco de termos leis que preservem privilégios para poucos, em detrimento da grande maioria da população – mantendo inaceitáveis níveis de exclusão social. Eis aí uma outra vertente fundamental para uma socie- dade democrática: o exercício da cidadania. No caso do Brasil, estamos acostumados a eleger nossos representantes algumas vezes com paixão, outras por pura e entediante obrigação, mas são raros os eleitores que, nesse ato, são movidos por um sentido de responsabilidade cidadã – implicando aí uma forte vigilância sobre seu representante, que vai muito além do voto. 8. Diante de tudo isso, quando olhamos para o caso do Brasil, assim como para os países da América Latina, percebe-se a enorme distância dos valores e práticas democráticas, se comparados às consolidadas democracias ocidentais. Estamos aprisionados na armadilha histórica de uma sociedade radicalmente dividida pela pobreza, e carente de um recurso fundamental para romper os grilhões que aprisionam milhões de brasileiros. Eis aí o terceiro vetor fundamental para uma nação democrática: a educação. 9. Como todo sistema humano, a democracia tem seu calca- nhar de Aquiles ou falha estrutural. As conquistas já consolida- das podem sofrer regressões ou, o que é pior, a democracia pode ser corroída por dentro, dependendo de como os eleitores definem suas lideranças, e sobre elas depositam excessiva confiança. São vários exemplos, como a Alemanha nazista e, mais recentemente, a Venezuela com seu bolivarianismo tupiniquim. A consolidação estrutural da democracia não é algo linear e irreversível, ao longo do tempo. Ao contrário, é um processo árduo e cheio de incertezas e desafios, que se conquista e se passa de geração para geração, como um valioso legado civilizatório. É prática política em estado vivo, que pode transformar a sociedade e nossas vidas. Todos somos sujeitos e objetos dessa transformação. Todos somos desa- fiados a agir na construção do nosso destino. 64 João Rego