ela toma corpo de um sistema estruturalmente consolidado – ou seja, uma consolidação dinâmica, capaz de se autorregular para dar conta das idiossincrasias do homem em sociedade e de seu indispensável exercício de poder, bem mais recentemente.
2. As chamadas Democracias Ocidentais, incluindo Estados Unidos, Japão, Austrália e Europa, são exemplos de experiências consolidadas, arduamente construídas ao longo de várias guerras, internas e externas, sendo as mais significativas a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918, com 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, e a Segunda Guerra Mundial, de 1939-1945, com mais de 50 milhões de mortos.
3. Democracia não é algo que se alcança e para, como uma visão idealizada de paraíso. Pelo contrário, é uma prática de permanente aperfeiçoamento, pois o desafio, para qualquer sociedade, é fazer migrar suas práticas políticas para o patamar mais elevado possível de tolerância à diversidade, transparência no uso dos recursos públicos e participação do cidadão nos destinos da nação. Muitas são as forças inerciais que limitarão a nação para atingir esta meta. Aí estão envolvidos os interesses daqueles que detêm e controlam grande parte do poder político e a produção e distribuição da riqueza, a história particular de como se deu a formação econômica e social de um país, seus valores éticos e morais, sua cultura e seu grau de intolerância com relação à diversidade humana e de classe.
4. Democracia é assim o mais alto grau de civilidade conquistado pela humanidade, após vários milênios de História. Entendase aqui o conceito de civilização como tudo aquilo que nos distingue dos animais, e com que, ao longo da nossa história, vimos tentando dominar nossas pulsões primitivas de agressividade e destruição do outro. As artes e as leis são expressões dessa civilização; a guerra talvez seja o principal exemplo da anticivilização, posto que, destrutivamente irracional, movida pela ambição de conquista, dominação ou destruição do outro – nos aproxima dos animais e seus instintos.
5. Como cada sujeito é um universo único e distinto, formamos, quando em sociedade, uma complexa e quase infinita miríade de combinações de pensamentos, desejos e ações, que inevitavelmente irão conflitar com o outro – entenda-se outro aqui como todo aquele ser humano que não sou eu. É com o exercício da tolerância à diversidade, sob o domínio da lei, que se nutre e se fortalece uma sociedade democrática. É desafio de várias gera-
Lições de democracia
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