NUNC - Revista Cultural 1 | Page 13

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Há uma linha lógica inegável na forma com que o disco foi pensado e construído. Esteticamente, para além da já discutida melodia solitária que reforça a intimidade, Tim mescla sensações do passado com a forma de se lançar no presente. Nas músicas, isso existe porque algumas delas já tinham sido compostas há anos – inclusive publicadas anteriormente no YouTube, como é o caso de “Não” -, mas, para o jovem compositor, mereciam estar todas juntas, porque não cabiam em outros projetos como os d’O Terno. Por partirem do mesmo tema e seguirem uma mesma linha estilística, parecem ser todas uma só música de 40 minutos, em que uma história é contada e existem variações melódicas que se completam. Já na arte da capa, o regresso ao passado é representado pela foto analógica, mas contrastado pela fonte e pela diagramação, que lembram as do último disco da Beyoncé. Como nada em “Recomeçar” é por acaso, essa mistura entre o vintage e o indie é também algo que Tim buscou alcançar, uma vez que são dois estilos pelos quais ele gosta de explorar.

Após um mês de lançamento, o álbum vem atingindo críticas positivas na cena musical paulista e brasileira. Tim está na capa da playlist Indie Brazuca no Spotify Brasil, com destaque para “Tanto Faz”; na Revista Rolling Stone Brasil o álbum está cotado como excelente e n’O Globo como ótimo e está, ainda, na lista de votação da Red Bull dos melhores álbuns nacionais de 2017.

Capa do álbum "Recomeçar"

O trio paulista do qual Tim participa é uma das maiores referências de música independente no Brasil, sendo uma das fundadoras do selo RISCO, um coletivo de bandas paulistanas independentes.

Foi em 2012 que O Terno lançou o seu primeiro álbum, 66, que obteve críticas positivas e foi avaliado como “um dos mais impressionantes discos de estreia de uma banda brasileira” pelo jornal O Globo. Em 2014 construíram o selo RISCO e lançaram seu segundo álbum, O Terno, com músicas autorais. E em setembro de 2016 lançaram seu terceiro e melhor disco, Melhor Do Que Parece, em turnê até hoje.

Patrocinado pelo edital da Natura Musical, Melhor Do Que Parece mistura tropicalismo, rock, soul solar e pop. É uma fase mais madura e até mais feliz da banda, sem deixar a introspecção de lado. Para Tim, O Terno tem, agora, maturidade para tocar as músicas do último álbum e elas são muito mais legais do que as antigas.

O Terno, ainda melhor do que parece

O show de lançamento aconteceu no dia 6 de outubro, com o Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer lotado e uma energia muito boa que rendeu ao Tim a sensação de estar no próprio quarto. A turnê do álbum, por sua vez, começa em 2018, tanto dentro quanto fora do Brasil, porém ainda sem datas previstas. Como O Terno está seguindo a todo vapor, com turnê aberta pelas capitais brasileiras e lançamento do LP do Melhor Do Que Parece, a intenção do músico é seguir com os dois projetos de forma paralela. Os outros integrantes do trio paulista, Gabriel Basile (bateria e percussão) e Guilherme d’Almeida (baixo), apoiam o parceiro. Para Basile, “é um ano importante de consolidação, de se afirmar como compositor”.

Com uma ficha técnica que parece ter sido inspirada nos filmes do Chaplin, Tim se afirma como autor integral do disco, deixando apenas a engenharia de som e a masterização a cargo de Gui Jesus Toledo e Fernando Sanches, respectivamente. A composição; os arranjos de banda, cordas, sopros e harpa e a mixagem, em contrapartida, foram feitos todos pelo próprio Tim, que já tinha o desejo prévio de fazer tudo sozinho para deixar com a cara dele. E se deu certo ou não, o fato é que todo mundo pode se reconhecer um pouco em “Recomeçar”: seja nas letras sensíveis e universais, na melodia leve para quem quer um pouco de calma, na reflexão para os cheios de interrogação ou para quem busca, desesperadamente, um recomeço.