Newsletter Clínica Médica da Foz Novembro 2018 | Page 3
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O meu coração pode
correr?
Dr. Paulo Lencastre Ferreira da Silva
Cardiologia
Q
ualquer indivíduo que goste de praticar corrida
deve estar consciente que tem de ter um bom
coração e que deve treinar de acordo com o
rendimento a que se propõe atingir. O exame médico-
-desportivo é o primeiro passo a tomar para evitar um
evento cardiovascular grave, que pode ser totalmente
inesperado e que é algumas vezes dramático. Na história
clínica, o médico deve questionar o atleta sobre consu-
mo de substâncias ilícitas e sobre sintomatologia do foro
cardíaco, particularmente a que surge em esforço, como
a dor torácica (precordial esquerda e/ou atrás do osso es-
terno), as palpitações e as tonturas com sensação de des-
falecimento. Também é importante perceber se o atleta
já alguma vez teve algum episódio de perda de consciên-
cia (síncope) e se na família existe algum caso de morte
súbita (morte antes dos 35-40 anos de idade de causa não
traumática ou por doença conhecida). Igualmente, o mé-
dico deve estar particularmente alerta quando existem
fatores de risco cardiovasculares como:
1. sexo masculino
2. idade superior a 55 anos no sexo masculino e idade
superior a 65 anos no sexo feminino
3. hipertensão arterial (TA > 140/90 mmHg)
4. tabagismo sob qualquer forma
5. dislipidemia (ou seja, gorduras aumentadas no san-
gue: colesterol total > 190mg/dl; colesterol LDL > 115mg/
dl; colesterol HDL no sexo masculino < 40mg/dl e co-
lesterol HDL no sexo feminino < 46 mg/dl; triglicerí-
deos > 150mg/dl)
6. glicose em jejum anormal (definida como > 102 mg/dl
e < 125 mg/dl)
7. obesidade – índice de massa corporal > 30 (IMC = peso
– kgs / estatura – m x estatura – m)
8. perímetro de cintura no sexo masculino > 94cm e no
sexo feminino > 80cm
9. história familiar de doença cardiovascular precoce (no
sexo masculino antes dos 55 anos e no sexo feminino
antes dos 65 anos).
No exame físico o médico procura essencialmente a
existência de dismorfas no tórax, a presença de sopros
cardíacos, arritmias e pulsos arteriais anormais nos dois
lados do corpo, nos punhos (artérias radiais), nas virilhas
(artérias femorais).
O ECG é o exame mais importante a realizar na consul-
ta de Medicina Desportiva, pois permite a identificação
de várias anormalidades, entre elas:
1. hipertrofia ventricular esquerda (ventrículo esquerdo
de tamanho aumentado)
2. bloqueios cardíacos
3. arritmias cardíacas
4. alterações elétricas sugestivas de isquemia do miocárdio
5. o padrão de Brugada e o padrão de Wolf-Parkinson-
-White, que são alterações elétricas do coração que po-
derão causar morte súbita durante o exercício físico.
O ecocardiograma e a prova de esforço em tapete ro-
lante são exames por vezes necessários para descartar a
possibilidade da presença de alguma entidade cardíaca
que contraindica a prática de exercício físico.