My first Magazine Revista Sarau Subúrbio ed 01 | Page 19

O S A M B A R E T R Ô Sonhei que o bonde Ipanema Trazia a morena da minha infância. Enxerguei no largo do Estácio Um velho Sinhô E de quebra um tal menestrel Chamado Ismael. Embarquei na ilusão e acreditei que A Vila Isabel ainda tinha o Noel. Já trocando as bolas me deparei Com um jovem Cartola me dando adeus. Meu peito ardia de saudade quando Ouvi bem baixinho o Nelson Cavaquinho Driblando a morte com seus versos vitais. Na Praça XI a tia Ciata acenava pra mim, Enquanto uma baiana me vendia um quindim Um capoeira mandava assim: “esquim dim dim”. E quando caminhei pra ver luz Acordei em Oswaldo Cruz. Com choro preso na goela, Eu vi Paulo da Portela e Manacéia Derramando lágrimas de melancolia. Eu morri de alegria quando na sombra De uma amendoeira, de chinelo charlote E chapéu Copanorte, o malandro nogueira, Me dizia do alto de sua sabedoria de poeta da rua: “O sambista de verdade é o cronista da cidade, E do passado não pode fugir, Por isso pega essa viola, Rasga esse pudor, Que o samba retrô Não pode parar.” Marco Trindade