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9 meses “ fizeram-se cedo ”!

Almada , Joana Carreiro

Em abril de 2022 , parti para São Tomé . Sobrevoava , pela primeira vez , o continente africano sem expetativas do que iria encontrar naquela ilha , mas sabendo que ia com a Helpo e que lá encontraria uma equipa incrível , que me ia acolher de braços abertos . A vontade de fazer voluntariado internacional já me acompanhava há algum tempo . Sempre quis ter uma experiência contínua e imersiva num novo país , numa nova cultura e realidade , que desafiasse aquilo que eram as normas socioculturais , que sempre conheci . Foi este bichinho , que me acompanhou durante a minha licenciatura e que acabou por culminar num estágio curricular na sede da Helpo , em Cascais . Desde muita triagem a muita aprendizagem , o meu estágio foi repleto de desafios e descobertas sobre o mundo da Cooperação e das Organizações Não Governamentais . Os meus dias passavam num ápice : desde tarefas de apoio ao funcionamento da sede , à colaboração em projetos nacionais , o meu estágio terminou num abrir e fechar de olhos . Contudo , sentia que havia muito mais para conhecer e aprender , e , por isso , decidi participar na Oficina de Voluntariado e candidatar-me ao Programa de Voluntariado Internacional , de longa duração . Assim , depois de um processo de entrevista e muitos meses de voluntariado na sede , onde dei seguimento a muitas das tarefas que havia realizado durante o estágio , parti para uma nova aventura . Em São Tomé , encontrei um país com muito que explorar , cheio de riqueza natural e com um sentido comunitário , que acolhe até aqueles que não são da terra . Neste país por descobrir , pude colaborar com a equipa da Helpo , tanto na vertente do apadrinhamento , como nos projetos de Educação e Saúde existentes na ilha . Foi fantástico acompanhar os meus colegas no terreno e ver o impacto positivo que os variados projetos têm nas comunidades e nas pessoas que lá vivem . Durante o meu voluntariado , realizei sessões baseadas na Educação não formal , com jovens da Escola Secundária Maria Manuela Margarido , onde , através de rodas de conversa , tentei promover um espaço seguro de partilha e de aprendizagem . Aqui , encontrei jovens com vontade e necessidade de partilhar as suas frustrações e sonhos e debatemos temas como o autoconhecimento , a expressão de emoções e as suas ambições para o futuro . Além disto , a maioria dos meus dias eram passados em Santa Catarina , uma das comunidades mais isoladas de São Tomé , na qual a Helpo trabalha há mais de 10 anos e onde se localiza a Mediateca , onde desenvolvi atividades com a comunidade escolar . Foi em Santa Catarina que senti o que era fazer parte de uma comunidade . Através das inúmeras viagens de “ Hiace ”, tive o privilégio de experienciar em primeira mão o dia-a-dia de uma pessoa santomense . Desde as anedotas e histórias , aos recados e encomendas , deixados de vizinhos para conhecidos , as viagens até Santa Catarina eram recheadas de novas descobertas e peripécias . Santa Catarina marcou-me muito e sinto que ficou lá um pouco de mim . Trouxe comigo as conversas com os pescadores e as palaiês ( vendedoras de peixe ), os almoços de búzio da terra e concon à beira-mar , as lições de angolar ( dialeto local ) das professoras , os jogos tradicionais com os mais novos e as futeboladas dos mais velhos . Fica o sentido de pertença e acolhimento por parte daquela comunidade vulnerável e esquecida . Em São Tomé , encontrei uma nova família , a família Helpo , a quem agradeço muito todo o apoio e confiança . Guardo esta experiência com muito carinho e saudade e com a certeza de que lá voltarei .