ESPECIAL FUTUROS PRESIDENTES
Marta não nos empresta sorrisos, nem
com a ajuda do Carlos, que vai repetin-
do “sorri” na língua macua: Othieke!
Clic! Othieke! Clic! Othieke! Clic! Clic!
Clic! O Edmilson mais novo é o oposto,
quando não está a soprar no seu apito
de árbitro, está a espalhar alegria e po-
ses de peito cheio.
A sua mãe, que ainda há pouco tempo
era uma das crianças, diz que ele está
sempre pronto para ir à escola, até ao
domingo. Foi assim o primeiro dia na
estrada dos Futuros Presidentes.
O dia seguinte foi domingo de praia e
de corte de energia. A caminho de Pa-
quitequete, o único bairro com moçam-
bicanos autóctones no tempo em que
a cidade de Pemba se chamava Porto
Amélia, passámos de carro pela praia
de Hinos e deparámo-nos com uma
incrível enchente de pessoas. A EDM
(Eletricidade de Moçambique) interrom-
peu o serviço em Pemba, o que demo-
cratizou um pouco a vida da popula-
ção, mais gente sem ar condicionado,
sem televisão, sem internet e sem luz
em casa. Claro que os ricos e os hotéis
contrariam a democracia do azar com
geradores de apoio...
Nóque nóque às 5 da manhã, partida
trinta minutos depois com trezentos
quilómetros de caminho pela frente.
Florêncio, assessor de coordenação
da Helpo, fez a viagem connosco. Este
moçambicano de 25 anos, nascido em
Pemba, era um aluno sem pais e sem
aproveitamento, mas com o apoio
da sua madrinha e da Helpo, formou-
-se em Maputo e hoje dá formação de
pedagogia a professores, além de en-
sinar Inglês. A viagem foi praticamente
non-stop, com paragens técnicas para
comprar cocos, regar embondeiros e
tirar fotografias ao corrupio constan-
te à beira da estrada. Por volta das 9
horas, com o calor já a apertar, chegá-
mos à EPC (Escola Primária Completa)
de Chinda, distrito de Mocímboa da
Praia. Quando as crianças da escola re-
conheceram a carrinha. cercaram-nos
e começaram a entoar “Helpo! Helpo!
Helpo!” com um entusiasmo impressio-
nante. À nossa espera estava o Diretor
da escola, Eduardo Lucas Docta. Docta
acumula a direção com aulas de inglês,
de matemática, de ciências naturais e
de educação física, mas é também o
animador social da Helpo, ou seja, é o
responsável por identificar as necessida-
des dos alunos, por canalizar os apoios
e por ajudar a escrever as cartas aos
padrinhos. Todas as comunidades com
apadrinhados Helpo têm o seu próprio
Docta. Enquanto nos apresentava as
crianças selecionadas, Docta falou-nos
da importância da Educação, referindo
“uma visão ampla do mundo” e a capa-
cidade de “tirar a mancha da cabeça das
pessoas”.
Primeiro falámos com Ausse que tam-
bém responde pela alcunha de ‘Junho’.
O pai desta criança de 12 anos passa
meses na machamba e a sua madrasta
não lhe dá muita atenção, mas ape-
sar de tudo, Junho é bom aluno o ano