MUNDANO MAG №07 | Page 45

Homossexualismo Considerado por alguns como um desvio do desejo, que se orienta para o mesmo sexo, tanto nas fantasias como na relação corporal, segundo a psicanálise e a psiquiatria, o homossexualismo “comum”, admitido e assumido pelo indivíduo, afirma-se com a idade de 11 ou 12 anos de idade. Pode ser exclusivo, e nesse caso o homem não se interessa pela mulher sem que, no entanto, sejam alterados os contatos amigáveis com o sexo feminino. Distingue-se o homossexualismo culpabilizado e compulsivo, o dos indivíduos que repudiam conscientemente este tipo de prática sexual, do homossexualismo misto, paralelo a uma atividade heterossexual satisfatória. Segundo Freud, o homossexualismo é, antes, de mais nada, uma questão ligada à escolha do objeto, sendo que este último está relacionado à fase narcisista da evolução da criança. Na verdade, o homossexualismo é somente um sintoma e não uma causa. A causa reside no aspecto bissexual fundamental de todo ser. No entanto Freud recupera o homossexualismo e dele faz uma análise, sempre, considerando-o como um resultado. Este é o tema que envolve a narrativa do Bom-Crioulo, do cearense Adolfo Caminha, cuja originalidade da obra é evidente o impacto manifestado e sustentado pelo triângulo amoroso. Bom-Crioulo Autores "malditos" não são privilégio do século XX. Há exatament e cento e quatro anos morria Adolfo Caminha, um dos principais representantes da escola naturalista, talvez o nosso maior "maldito", que ousou tratar de um tema proibido – o homossexualismo na marinha - dentro de uma escola literária considerada menor, talvez daí a conspiração de silêncio que o cerca e à sua obra. Por sua importância, pode ser colocada, ao lado do romancista Aluísio Azevedo, nosso "band leader" do movimento naturalista. Iniciou-se na literatura como poeta, com Vôos Incertos (1886). Seguiram-se os romances: Lágrimas de um crente; Judite, ambos de (1887); A Normalista (1893); No País dos Ianques (1894); Bom-Crioulo (1895) e Tentação (1896). É verdade que, na literatura apresenta vários perigos, para quem quer por meio dela, atingir os estereótipos. Segundo Roger Bastide em seus estudos afrodescendentes, diz que a poesia lírica só nos mostra uma alma que canta as experiências individuais, enquanto a poesia satírica exagera caricatura e, por conseguinte, ultrapassa o estereótipo banal. Mesmo limitando-nos aos romancistas seria necessário distinguir os estereótipos do autor dos estereótipos de seus personagens.(1) Pode-se lhe censurar aquela mencionada ausência de poesia, e ao seu tempo muitos exploraram ao autor a exploração de tema tão escabroso. Ninguém lhe poderá negar, porém a admirável unidade instrumental, como o autor não se poderá negar a coragem com que abordou o problema e a mestria com que soube desenvolver a trama romanesca, a que seu grande talento emprestava cores ainda mais sombrias. Bom-Crioulo é um romance de tese, cujo enredo construído com minúcias, onde o narrador (narração linear, gradativa) fornece um grande painel informativo da paisagem, muito comum ao RealismoNaturalismo. A interferência de uma personagem feminina, em terra, atraindo à atuação do moço, faz com que o crioulo o mate sob o acicate (estímulo) do ciúme. A ação progride com força e tensa verossimilhança neste romance até o desfecho. > MUNDANO mag 45