MUNDANO MAG №07 | Page 44

CRÍTICA O Naturalismo fin-de-siècle No Brasil, o principal representante da estética naturalista foi Aluísio Azevedo (1857-1913), que em 1881, com a publicação de O Mulato tomou-se o introdutor do movimento entre nós. Pois as novas idéias que circulavam na Europa chegaram também até aqui, dando abertura a uma mudança de mentalidade, fervilhando idéias liberais, abolicionistas e republicanas. Menores e mais representativos do ideário naturalista - e dos excessos que o esgotam - foram Júlio Ribeiro, A Carne (1888); Inglês de Sousa, O Missionário (1888); Adolfo Caminha, A Normalista (1893) e Bom-Crioulo (1895). Se, de um modo geral, o Naturalismo na literatura brasileira não passou de um momento episódico no âmbito da afirmação das idéias positivistas e cientificistas em voga no fim do século XIX, coube-lhe o papel de iniciar a tradição regionalista, que se prolongou até a instauração do romance moderno. Tanto o Naturalismo quanto o Realismo igualmente, fixou temas urbanos e regionais. No primeiro caso, interessaram-lhe, não só os casos típicos da burguesia, decadente por falta de bases morais em que assenta todo um sistema social, como também os problemas das classes mais humildes e marginais, precisamente aquelas que eram exploradas pela ganância burguesa do lucro. Em sua vertente regional, o Naturalismo brasileiro encontrou, nos autores cearenses preocupações com o declínio econômico do Nordeste (secas, migrações), têm representantes importantes como Rodolfo Teófilo (1853-1932) A Fome (1890); Manuel de Oliveira Paiva (1861-1892), D. Guidinha do Poço (1891); Domingos Oliveira (1850-1906), Luiza- Homem (1901). O Naturalismo amplia as características do Realismo, acentuando-as e acrescentando-lhe certos elementos que tornam inconfundível sua fisionomia. Mas sempre fácil de estabelecer, é mais de grau, de por menos ou de medida. Ambos se fundamentavam nas mesmas bases científicas e filosóficas. Para os Naturalistas, o determinismo do homem é apresentado como uma máquina guiada pela ação de leis físicas e químicas, pela hereditariedade, pelo meio físico e social. Os seres aparecem como produtos, como conseqüências de forças preexistentes que lhe roubam o livre-arbítrio, que limitam sua responsabilidade e os tomam, em casos extremos, verdadeiros joguetes nas mãos do destino. A preferência por temas de patologia social, baseando-se nos problemas da hereditariedade, os escritores naturalistas nem hesitaram em ressaltar o efeito das taras, das doenças e dos vícios na formação do caráter, justando-lhes ainda os efeitos complementares da formação familiar, da educação e do nível cultural. Das teorias científicas em voga, amplamente divulgadas na época, o Naturalismo torna-lhe a precisão e a objetividade, descrevendo com impessoalidade, exatidão e minúcia. A literatura engajada no movimento implica uma posição de combate, de decadência social, fazendo da obra de arte uma verdadeira tese com intenção realista de reformar a sociedade. Portanto, o romance naturalista é marcado por forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. O Naturalismo apresenta romances, experimentais: a influência de Darwin se faz sentir na máxima naturalidade segundo a qual o homem é um animal. A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto naturalista. Em conseqüência, esses romances de atos sexuais e tocantes, inclusive, em temas então proibidos, como o incesto, o homossexualismo, tanto masculino, quanto feminino. MUNDANO mag 44