HOMOSSEXUALISMO PRETO & BRANCO NO ROMANCE
‘BOM CRIOULO’, DE ADOLFO CAMINHA
Por Gilfrancisco Santos
Este artigo tem o objetivo de mostrar através do ideário Naturalista, na literatura brasileira, as afirmações das idéias positivistas e cientificistas em voga no fim do século XIX, no romance de Afonso Caminha,
intitulado "Bom-Crioulo" (1895). Baseando-se nestas teorias, o autor toma-lhe a precisão e a objetividade
descrevendo com impessoalidade, exatidão e minúcia as referidas idéias através das relações processadas
pelos personagens.
Essas implicam numa posição de combate, de análise dos problemas evidenciados pela decadência social, fazendo da obra de arte uma verdadeira tese com intenção realista de reformar a sociedade. Justificando que o romance naturalista é marcado por forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo. O Naturalismo apresenta romances, experimentais como "Bom-Crioulo",
segundo o qual o ser humano é um animal: antes de usar a razão deixa-se levar pelos instintos naturais,
não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas - como sexo - pela moral da classe dominante. "Bom-Crioulo", romance de tese, cujo enredo é construí do com minúcias, onde o narrador
(narração linear, gradativa) fornece um grande painel informativo da paisagem muito comum ao Realismo
-Naturalismo.
A intenção do romance resume-se em acompanhar as pers onagens em seu movimento, como se fosse
o expectador que registra a evolução do drama alheio sem interferir. Nele tudo caminha numa ordem
inalterável até o epílogo, com uma supervalorização do instinto sobre os sentimentos, do animal sobre o
racional. Adolfo Caminha trata nesse livro da historia de marinheiros homossexuais (talvez o primeiro da
literatura brasileira) e cujo personagem central, Amaro é um escravo foragido, crioulo escolado, de bons
sentimentos, como o título sugere, que mantém um conturbado relacionamento com um rapaz branco,
meio bisonho. O que é interessante nesse romance, é que os estereótipos contra os negros não desempenham papel algum enquanto a paixão domina o herói do romance. A volúpia é tão forte que atira para o
inconsciente, repelindo e como que fazendo desaparecer, os estereótipos do início do livro.
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MUNDANO
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