Minha primeira Revista Revista DEZAINE - Edição 1 | Page 35

flar; algo que me desperta curiosidade, pois é nesse limbo entre a necessidade e o risco que se encontra o potencial criativo.
A UNIFORMIZAÇÃO DOS DESEJOS Texto adaptado de outros escritos no âmbito académico. Aveiro, 2006
Com a era do modernismo veio um corte definitivo com as barreiras entre a estética, a tecnologia e a sociedade, de modo a permitir que um design de alta qualidade visual e funcional pudesse ser produzido para grande parte da população. Surge o conceito de standard e a produção em massa, marcando ainda mais o poder colectivo, em oposição ao individual e ao custom made. O filme 2001: A Space Odissey( de Stanley Kubrick, 1968) e muitas outras obras de ficção científica marcam esta noção de standardização, um conceito utópico de futuro que põe de parte a espontaneidade do indivíduo, tendo este que adaptar-se à sistematização definida pelo espaço envolvente.
O pós-modernismo perfila a aceitação de elementos de diferentes estilos e épocas, e a rejeição de absolutos e identidades. O indivíduo é então constituído por uma série de signos, símbolos e imagens. Por um lado, surge a oportunidade de se reinventar, por outro, a metamorfose da sociedade numa condição esquizofrénica manipulada pelos mass media: o aumento da importância do superficial em relação ao substancial.
Hoje em dia, com a crescente democratização dos vários canais de informação, com especial destaque para a Internet, o mundo é-nos revelado ao segundo. A informação nunca viajou tão rapidamente, ou, com um fluxo tão denso. Tudo é exposto aos olhos de quem quiser ver; versões do mundo de milhões de pessoas dos quatro cantos da Terra. Estamos no terreno do fenómeno da globalização.
Ao mesmo estilo, não é só a informação que circula a uma escala global, as pessoas também se movimentam, e com estes uma bagagem cultural que questiona conceitos de raça e nação: a uniformidade reina e as fronteiras apagam-se lentamente. Nos grandes centros urbanos, um pouco por todo o mundo, é admirável o nível de multi-racialidade e multi-etnicidade, que, consequentemente, resulta num cenário de multi-culturalidade e inter-culturalidade. São imensos os estilos, as tendências, os gostos, as definições de bem, certo e belo. A densidade da informação questiona tudo, constantemente, moldando-nos ao nível da nossa identidade, do nosso sentido crítico, da nossa tolerância e capacidade de adaptação. Nunca foi tão forte o chamamento da individualidade, o culto do indivíduo e o culto da beleza; estas tendências sociais, juntamente com o fluxo de informação e com os fenómenos de multi-culturalidade e inter-culturalidade expandem a nossa visão do mundo. As nossas fontes de significado são imensas e das mais variadas em toda a história humana. Adquirimos e adaptamos códigos de significado, de várias culturas que consideramos coerentes com aquilo que somos num determinado momento, ou, que funcionam como motivadores de mudança.
O sentido de beleza ao nível do indivíduo é fruto de uma conjugação de elementos de significado, após uma " filtragem " rotineira do fluxo global de informação.
Cada indivíduo tem o seu sentido de belo, uma atitude personalizada, regularmente actualizada, derivada da contemplação do mundo.
Cada vez mais assistimos a uma“ globalização social”, onde o ser humano deixa a sua essência, seus valores e crenças morrer pela informação massiva, num mundo onde a publicidade e o marketing conseguem modelar a sociedade. Pertencemos a uma sociedade onde o « comum » domina o nosso quotidiano, existem quase cópias de indivíduos. Isto surge de uma divulgação / informação massiva, onde a relação entre essa informação e a vivência manifesta-se no in-
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