Rudson Varela: Quando se trata desse assunto, muito se fala sobre as atletas trans terem uma "certa" vantagem dentro de campo/quadra, você concorda? Poderia citar algumas?
Serginho Cunha: Quando se trata de uma mulher trans no esporte é mais fácil observar algum tipo de vantagem. Contudo, olhemos o caso mais famoso aqui do Brasil, que é o da Tiffany: Há dois anos atuando na Superliga, ela não levou o seu clube, o Vôlei Bauru ao título do campeonato, nem sequer chegou as finais em um desses dois anos. Então, eu acho que tanto ela como qualquer outra atleta trans que surja com destaque, servirão como muletas para justificar derrotas adversárias, porque o discurso sempre se repete: quando o Bauru ganha, é porque tem um "homem" no time, mas quando perde, ninguém a cita, nas derrotas do Bauru, todo mundo esquece que lá tem uma mulher trans. Então, acredito que os comportamentos machistas, ainda estão muito presente nos diversos tipos de esportes e colaboram pra isso.
Rudson Varela: Uma das soluções apontadas por parte das pessoas que são contra a participação de atletas transexuais em times femininos, é a criação de times exclusivos para pessoas trans. Na sua opinião, essa seria uma solução válida? Se aplicada, resolveria de fato toda essa polêmica presente no Meio Esportivo?
Serginho Cunha: No meu ponto de vista, não. O nome que se dá a isso é segregação. O que difere isso ao processo feito com negros e brancos nas escolas dos Estados Unidos? Nada. Querer separar cis e trans não é e nunca será a solução! Isso só marginalizará ainda mais esses indivíduos que já vivem à margem da sociedade e muitas vezes às margem até da própria família.
Rudson Varela: Atualmente, o COI (Comitê Olímpico Internacional) exige algumas regras para que uma atleta trans tenha o direito garantido para participar de competições esportivas, como por exemplo: não podem ter mais de 10 nanomol por litro do hormônio no sangue nos 12 meses anteriores à competição. Como você avalia essas regras? Elas são suficientes ou deveriam ser ampliadas e de forma mais rígidas?
Serginho Cunha: As regras são necessários sim! Até para inibir a má fé de alguns que podem vim a se aproveitar, no entanto, no meu ponto de vista, deveriam ser revistas nas ocasiões de problemas naturais, como no caso da Semenya, atleta sul-africana, que está sendo penalizada por algo que acontece naturalmente em seu corpo. E, por fim, eu gostaria de encerrar parabenizando vocês pela coragem em abordar uma temática tão delicada e eu espero ter contribuído de alguma forma.
PROFESSOR ENTREVISTADO SERGINHO CUNHA