Minha primeira publicação Transexualidade no meio esportivo | Page 20

ENTREVISTA

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Serginho Cunha: Querer separar atleta cis e trans não é e nunca será a solução.

Professor de Educação Física formado pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Serginho Cunha, fala sobre a polêmica temática "Transexualidade no Meio Esportivo". Confira:

Rudson Varela: Boa tarde, Professor Serginho, antes de mais nada, agradecemos por você se dispor a conceder esta entrevista.

Bem, você pode iniciar falando um pouco sobre sua trajetória no meio esportivo? Como suas conquistas, experiências e formações na área?

Serginho Cunha: Boa tarde. Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade de falar de um assunto tão importante e necessário, não só no âmbito esportivo como também para a sociedade de maneira geral. Eu sou professor de Educação Física, formado pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), no ano passado, em 2018. E no que diz respeito à experiências no meio esportivo, elas são limitadas ao meu período de atleta na escola e ao ano e meio que fiquei a frente das equipes do IFRN – Campus Parnamirim.

Rudson Varela: Como é de seu conhecimento, o objetivo dessa entrevista é que você exponha um pouco sua opinião a respeito da inclusão ou não de atletas transexuais em times femininos. Logo, gostaria de pergunta-lo, você é a favor ou contra? Poderia nos dizer como chegou a formar sua opinião sobre isso?

Serginho Cunha: Eu sou a favor! E explico minha posição sobre dois vieses: Primeiro, o esporte enquanto fator de inclusão. E aqui não falo do esporte de alto rendimento mas sim do esporte desenvolvido nas escolas e em projetos sociais, nesse ponto todos devem ser aceitos e inseridos de acordo com seus desejos. Eu, por exemplo, enquanto treinador de uma determinada equipe não tenho o direito de excluir uma menina trans dos treinos da equipe feminina apenas pelo fato dela ter nascido com o sexo oposto, eu a estaria penalizando por algo que não foi uma escolha dela. Diferente do que muitos pensam, a troca de sexo não é uma escolha, é alguém que nasce, não se identifica com o seu sexo biológico e para viver bem consigo mesmo opta por fazer a mudança. E o segundo ponto, aí sim no esporte de rendimento, eu peço para vocês pensarem comigo, se a pessoa já sofreu tanta coisa para passar por todas as dificuldades impostas pelo conservadorismo imbricado em nossa sociedade, o que a impede de também usufruir da prática esportiva como qualquer outra pessoa cis? No entanto, nesse ponto do esporte de rendimento, é necessário fazer uma ressalva, caberia as organizações competentes uma espécie de investigação nos e nas atletas trans. Por que eu digo isso? Porque alguns indivíduos, seja atletas, treinadores ou até presidentes de federações de qualquer esporte, eles podem tirar proveito dessa situação, "mudando" o sexo do atleta para obter melhores resultados.

Rudson Varela: Quando se trata desse assunto, muito se fala sobre as atletas trans terem uma "certa" vantagem dentro de campo/quadra, você concorda? Poderia citar algumas?

Serginho Cunha: Quando se trata de uma mulher trans no esporte é mais fácil observar algum tipo de vantagem. Contudo, olhemos o caso mais famoso aqui do Brasil, que é o da Tiffany: Há dois anos atuando na Superliga, ela não levou o seu clube, o Vôlei Bauru ao título do campeonato, nem sequer chegou as finais em um desses dois anos. Então, eu acho que tanto ela como qualquer outra atleta trans que surja com destaque, servirão como muletas para justificar derrotas adversárias, porque o discurso sempre se repete: quando o Bauru ganha, é porque tem um "homem" no time, mas quando perde, ninguém a cita, nas derrotas do Bauru, todo mundo esquece que lá tem uma mulher trans. Então, acredito que os comportamentos machistas, ainda estão muito presente nos diversos tipos de esportes e colaboram pra isso.

Rudson Varela: Uma das soluções apontadas por parte das pessoas que são contra a participação de atletas transexuais em times femininos, é a criação de times exclusivos para pessoas trans. Na sua opinião, essa seria uma solução válida? Se aplicada, resolveria de fato toda essa polêmica presente no Meio Esportivo?

Serginho Cunha: No meu ponto de vista, não. O nome que se dá a isso é segregação. O que difere isso ao processo feito com negros e brancos nas escolas dos Estados Unidos? Nada. Querer separar cis e trans não é e nunca será a solução! Isso só marginalizará ainda mais esses indivíduos que já vivem à margem da sociedade e muitas vezes às margem até da própria família.

Rudson Varela: Atualmente, o COI (Comitê Olímpico Internacional) exige algumas regras para que uma atleta trans tenha o direito garantido para participar de competições esportivas, como por exemplo: não podem ter mais de 10 nanomol por litro do hormônio no sangue nos 12 meses anteriores à competição. Como você avalia essas regras? Elas são suficientes ou deveriam ser ampliadas e de forma mais rígidas?

Serginho Cunha: As regras são necessários sim! Até para inibir a má fé de alguns que podem vim a se aproveitar, no entanto, no meu ponto de vista, deveriam ser revistas nas ocasiões de problemas naturais, como no caso da Semenya, atleta sul-africana, que está sendo penalizada por algo que acontece naturalmente em seu corpo. E, por fim, eu gostaria de encerrar parabenizando vocês pela coragem em abordar uma temática tão delicada e eu espero ter contribuído de alguma forma.