Minha primeira publicação Revista Dealer 79 | Page 12

entrevista Revista Dealer: Sobre a Tesla estar tendo em prejuízo e demitindo 7 mil pessoas, como avalia o problema da falta de uma Rede de Concessionárias? Charlie Gilchrist: A Tesla é uma boa empresa, com bons pro- dutos. Vendeu, em 2018, 182 mil veículos elétricos, mas a empresa não pode ter sucesso fabricando e, ao mesmo tempo, vendendo os carros. Como a Tesla não tem Rede de Concessionárias, está sofrendo com isso. Revista Dealer: Sobre veículos autônomos, a NADA acredita que terão mais espaço, nas ruas? Qual a avaliação da entidade sobre essa tecnologia? Charlie Gilchrist: Quanto à regulamentação de carros autôno- mos, nos Estados Unidos, temos uma lei federal e também temos as leis de cada estado. A regulamentação de veículos totalmente autônomos, quanto à lei federal, aborda mais a segurança, e isso ainda não foi implementado. O que a NADA pretende é ter uma regulamentação nacional sobre segurança, que seja válida em todos os estados. Mas cada estado tem sua própria legislação, que se sobrepõe à federal. Esse é um assunto muito complexo, que envolve segurança e franquias. Quanto à penetração desses veículos no mercado, não vemos isso como algo para breve. Talvez em 10 anos. Mas o otimismo de antes está começando a diminuir, pois há dúvidas sobre se os consumidores aceitarão esse tipo de veículo. As pessoas gostam de dirigir seus carros. Tenho certeza de que há uma parte da população que adotaria o carro autônomo, mas não sei se em grande escala. Um executivo da GM disse que o futuro da mobilidade, com os carros autônomos, está muito mais longe do que a mídia vem divulgando. “Nosso maior desafio é que os nossos carros sejam baratos. Mesmo com as novas tecnologias, precisamos que os veículos continuem acessíveis.” 12 Revista Dealer É preciso ter muita estrutura até que o carro chegue às pessoas, de forma segura e sem que precise de nenhuma interação humana. Talvez seja um mercado futuro, para atender às pessoas mais idosas ou as muito jovens, mas, em geral, o norte-americano adora dirigir; é uma diversão para ele. Revista Dealer: Qual a frota circulante nos Estados Unidos? Os autônomos já fazem parte desta frota? Charlie Gilchrist: Há 266 milhões de veículos circulando no país e nenhum autônomo, de fato. Existem 200, mas todos estão em teste. No caso de caminhões, acredito que seja ainda mais complicado que alguém compre um caminhão autônomo, para transportar cargas valiosas. Revista Dealer: As novas tecnologias impactam nas relações entre Concessionárias e consumidores? Charlie Gilchrist: As concessionárias estão diretamente envol- vidas, pois são elas as responsáveis por repassar, aos clientes, informações sobre a segurança, tecnologia e economia de combustível envolvidas nos carros elétricos, por exemplo. Isso leva tempo para explicar ao cliente, que não tem pa- ciência para ouvir. Por isso, a maior parte dos consumidores ainda não entende o que esses carros oferecem. Por exem- plo, quando falamos dos benefícios de uma simples câmera de ré, alguns ficam em dúvida, se têm ou não que olhar para trás, ao manobrar, ou se podem confiar na câmera de ré. Parece algo simples, mas não é. Há a necessidade de ter um programa de educação em relação a essa aprendizagem, sobre novas tecnologias, junto aos clientes. Revista Dealer: Quais os principais desafios de sua gestão e para o mercado norte-americano? Charlie Gilchrist: Nosso maior desafio é que os nossos carros sejam baratos. Mesmo com as novas tecnologias, precisa- mos que os veículos continuem acessíveis. Os fabricantes estão ficando mais disciplinados e têm reduzido seus custos, incentivos, e tudo isso está afetando o custo de produção e os preços. Outro desafio é em relação à mão-de-obra especializada nas concessionárias. Precisamos de 76 mil novos técnicos de serviços, por ano, em nossas empresas, e não temos tido sucesso nesse recrutamento. O setor de concessionárias não tem atraído candidatos, ao menos na área técnica, ainda que o salário seja bom (em torno de US$ 67 mil ao ano) e que estejamos dispostos a treinar e capacitar profissionais sem experiência.