por vezes brisas e noutras tormentas;
sei que os sóis não têm sempre obrigação de nascer
e que nem todas as vezes a noite traz as trevas
para me sugarem os sangues e as memórias.
Sei de tudo, Camila,
mas saber não faz da dor carícia.
Há alguns dias sombrios, Camila,
Venho caminhando sem recorrer a atalhos
Procuro um destino qualquer
Nas ruas; infinitas avenidas da W3
Falta o tempo dos prédios e do asfalto
Falta o tempo do antes e do ontem nessa cidade
Você pensa ser ar o que respira quando vê a luz
& inspira, inspira na ilusão do oxigênio
A mãe que temos sequer nos pariu, Camila,
– Nos afogamos em seus fluidos amnióticos
Cada vez que expandimos o tórax – & morreremos
Todos os dias, sem nunca termos visto a luz da rua
Busco caminhos sem precisar recorrer ao destino
– O tempo é largo, Camila não nos apressemos muito.
Vejo meus próprios olhos agora & eles brilham tanto,
Minha amiga; meu corpo carrega flores em um vestido
Tenho os pés descalços & ainda há terra neles
Entre os dentes eu trago a leveza da primavera
Mas já não há sangue ou calor
Há uma caixa no meio do minúsculo salão redondo
Uma grande caixa, único ponto iluminado
Estou sozinha, & não existe nada pior que o meu silêncio agora
A meu pai - & seus ensinamentos hoje
Quando este espelho se partir
O que restará de meu reflexo em seus cacos
13