Madame Eva Nº3 | Page 15

por vezes brisas e noutras tormentas; sei que os sóis não têm sempre obrigação de nascer e que nem todas as vezes a noite traz as trevas para me sugarem os sangues e as memórias. Sei de tudo, Camila, mas saber não faz da dor carícia. Há alguns dias sombrios, Camila, Venho caminhando sem recorrer a atalhos Procuro um destino qualquer Nas ruas; infinitas avenidas da W3 Falta o tempo dos prédios e do asfalto Falta o tempo do antes e do ontem nessa cidade Você pensa ser ar o que respira quando vê a luz & inspira, inspira na ilusão do oxigênio A mãe que temos sequer nos pariu, Camila, – Nos afogamos em seus fluidos amnióticos Cada vez que expandimos o tórax – & morreremos Todos os dias, sem nunca termos visto a luz da rua Busco caminhos sem precisar recorrer ao destino – O tempo é largo, Camila não nos apressemos muito. Vejo meus próprios olhos agora & eles brilham tanto, Minha amiga; meu corpo carrega flores em um vestido Tenho os pés descalços & ainda há terra neles Entre os dentes eu trago a leveza da primavera Mas já não há sangue ou calor Há uma caixa no meio do minúsculo salão redondo Uma grande caixa, único ponto iluminado Estou sozinha, & não existe nada pior que o meu silêncio agora A meu pai - & seus ensinamentos hoje Quando este espelho se partir O que restará de meu reflexo em seus cacos 13