Madame Eva Nº3 | Page 14

40, 41, 42 Por Leila Saads Sou ilha, Camila, Há quanto tempo não me sei continente? Isolada vislumbro horizontes de águas caudalosas. São águas turvas. E é apenas meu reflexo o que vejo sobre as superfícies fluidas quando busco conhecer a essência, escondida na p ro fun didade inenarrável. No espelho, posso ver o sol acima de mim, encoberto, e as árvores frondosas com galhos de imprevisível mistério que por vezes acompanham minha paisagem. Outras vezes é campina grande o que vejo, infinito pasto, e o céu sem nuvens, refletido na água, me lembra a calmaria dos lagos, sereno, completo em sua previsibilidade. É a mesma realidade que coexiste em mim e em outro quadro: turva, imprevisível e desconhecida em dias de tempestade; ensolarada e tranqüila quando nas manhãs de outubro. Cercada por águas busco firmeza retirando de uma raiz imaginária o sustento pro resto de mim. Por vezes há enchentes, e padeço. Nem sei o quanto de matéria perdi nesses abalos, muito de mim foi arrancado. Sim, sei que são coisas da natureza, Camila. Que nem todos os dias são capazes de se parecerem dias, e que às vezes há luz, noutras breu, 12