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Por Leila Saads
Sou
ilha, Camila,
Há quanto tempo não me sei continente?
Isolada vislumbro horizontes de águas caudalosas.
São águas turvas.
E é apenas meu reflexo
o que vejo sobre as superfícies fluidas
quando busco conhecer a essência,
escondida na p
ro
fun
didade inenarrável.
No espelho,
posso ver o sol acima de mim,
encoberto,
e as árvores frondosas
com galhos de imprevisível mistério
que por vezes acompanham minha paisagem.
Outras vezes é campina grande o que vejo,
infinito pasto,
e o céu sem nuvens, refletido na água,
me lembra a calmaria dos lagos,
sereno, completo em sua previsibilidade.
É a mesma realidade que coexiste
em mim e em outro quadro:
turva, imprevisível e desconhecida em dias de tempestade;
ensolarada e tranqüila quando nas manhãs de outubro.
Cercada por águas busco firmeza
retirando de uma raiz imaginária
o sustento pro resto de mim.
Por vezes há enchentes,
e padeço.
Nem sei o quanto de matéria perdi nesses abalos,
muito de mim foi arrancado.
Sim, sei que são coisas da natureza, Camila.
Que nem todos os dias são capazes de se parecerem dias,
e que às vezes há luz, noutras breu,
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