numa das teorias da conspiração que re-
centemente tive o prazer de descobrir e,
depois de conseguirmos os fiéis seguido-
res, leva-los todos a morte.
ansiedade do imperador de Ajaccio que,
receoso do futuro, foi atrás da poção e,
sim, encontrou-a. O destino de Napoleão
é sabido: perdendo em Waterloo, foi pos-
to em novo exílio na Ilha de Santa Hele-
ORACI: irmão, por chacota, pra ter ane- na e, pouco tempo depois, veio a falecer.
dota que contar no fim da vida, você está
propondo matar pessoas unindo seu gos-
A narrativa messiânica que Jerôni-
to por conspirações e minha busca por mo pregava às almas fracas que se junta-
verdades?
vam a sua seita contava que a única certe-
za era a de que Deus nos colocou na terra
JERÔNIMO: é um pouco mais do que para, aqui, procurarmos a vida eterna. Fo-
isso. Quero provar, evidentemente, que ram os gregos que, ao transformarem o
sua busca por verdades absolutas é uma laborioso em pré-condição para o prazer,
simples perda de tempo, essas pessoas reformularam a busca da vida eterna, fa-
acreditam em qualquer coisa, deixando zendo do decesso na cruz o caminho para
tudo sujeito a circunstâncias, à opinião - a eternidade no céu. Espalhadas, ou me-
no fundo, o ser humano é genuinamente lhor, deixadas por Deus, estariam inúme-
uma coisa afeita ao que é passageiro...
ras fórmulas de aguardente pela terra.
ORACI: ou talvez seja apenas você, assu- Como encontrá-las? O caminho para a
mindo algum bordão, e apenas em busca imortalidade demandaria grandeza, de-
mandaria busca incessante, demandaria
de matar.
fé. Primeiro foram alguns poucos alu-
nos, depois algumas beatas da catedral,
JERÔNIMO: que teoria... Topas?
em seguida funcionários da prefeitura,
ORACI: Sim.
um proprietário de jornal, um médico
descrente, três soldados e dois sargentos,
E como quem não tem nada a per- quatro advogados, um engenheiro um
der, Oraci aceitou o convite macabro do jornalista, e por fim, o dono da padaria,
irmão e puseram-se os dois a trabalhar.
junto com uma dúzia de clientes.
Das muitas histórias que guardam
ilhas dessas pequenas no oceano, Jerôni-
mo interessou-se por aquela de Napo-
leão, quando exilado em Elba. Conta que
antes de partir para Paris em busca de
uma nova vitória que o levasse ao poder,
Napoleão passou cem dias, no Egito. Um
velho senhor, nativo elbano, informou
a Napoleão que, naquelas terras, havia
certa aguardente, encontrada nas redon-
dezas do oásis Siwas, oeste do país, onde
se daria o encontro de tribos bérberes da
região. Esse líquido, quando ministrado
em pequenas quantidades e por longos
meses, tinha o poder de estancar o de-
finhamento do corpo, fato comprovado
pela aparência do próprio elbano, e pela
Nas reuniões, Jerônimo alimenta-
va a imaginação dos participantes com
anedotas da história de Napoleão, após
o que dedicava todas as sessões ao rela-
to da sua epifania, inteiramente baseada
nos textos sagrados, na filosofia, na his-
tória do homem de Santa Helena – um
relato de revelação baseado na soberba
de quem decide desfrutar e debochar da
morte. Oraci liderava as discussões sobre
a verdade, alimentando nos membros a
excepcionalidade de cada um, a grandeza
de cada personalidade ali presente; fala-
va de amor e da visão faiscada que ob-
teve, por meio da conexão com o irmão;
explorava, como Jerônimo, a credulidade
daqueles tolos. Por fim, todos tomavam
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