Madame Eva Nº3 | Page 12

numa das teorias da conspiração que re- centemente tive o prazer de descobrir e, depois de conseguirmos os fiéis seguido- res, leva-los todos a morte. ansiedade do imperador de Ajaccio que, receoso do futuro, foi atrás da poção e, sim, encontrou-a. O destino de Napoleão é sabido: perdendo em Waterloo, foi pos- to em novo exílio na Ilha de Santa Hele- ORACI: irmão, por chacota, pra ter ane- na e, pouco tempo depois, veio a falecer. dota que contar no fim da vida, você está propondo matar pessoas unindo seu gos- A narrativa messiânica que Jerôni- to por conspirações e minha busca por mo pregava às almas fracas que se junta- verdades? vam a sua seita contava que a única certe- za era a de que Deus nos colocou na terra JERÔNIMO: é um pouco mais do que para, aqui, procurarmos a vida eterna. Fo- isso. Quero provar, evidentemente, que ram os gregos que, ao transformarem o sua busca por verdades absolutas é uma laborioso em pré-condição para o prazer, simples perda de tempo, essas pessoas reformularam a busca da vida eterna, fa- acreditam em qualquer coisa, deixando zendo do decesso na cruz o caminho para tudo sujeito a circunstâncias, à opinião - a eternidade no céu. Espalhadas, ou me- no fundo, o ser humano é genuinamente lhor, deixadas por Deus, estariam inúme- uma coisa afeita ao que é passageiro... ras fórmulas de aguardente pela terra. ORACI: ou talvez seja apenas você, assu- Como encontrá-las? O caminho para a mindo algum bordão, e apenas em busca imortalidade demandaria grandeza, de- mandaria busca incessante, demandaria de matar. fé. Primeiro foram alguns poucos alu- nos, depois algumas beatas da catedral, JERÔNIMO: que teoria... Topas? em seguida funcionários da prefeitura, ORACI: Sim. um proprietário de jornal, um médico descrente, três soldados e dois sargentos, E como quem não tem nada a per- quatro advogados, um engenheiro um der, Oraci aceitou o convite macabro do jornalista, e por fim, o dono da padaria, irmão e puseram-se os dois a trabalhar. junto com uma dúzia de clientes. Das muitas histórias que guardam ilhas dessas pequenas no oceano, Jerôni- mo interessou-se por aquela de Napo- leão, quando exilado em Elba. Conta que antes de partir para Paris em busca de uma nova vitória que o levasse ao poder, Napoleão passou cem dias, no Egito. Um velho senhor, nativo elbano, informou a Napoleão que, naquelas terras, havia certa aguardente, encontrada nas redon- dezas do oásis Siwas, oeste do país, onde se daria o encontro de tribos bérberes da região. Esse líquido, quando ministrado em pequenas quantidades e por longos meses, tinha o poder de estancar o de- finhamento do corpo, fato comprovado pela aparência do próprio elbano, e pela Nas reuniões, Jerônimo alimenta- va a imaginação dos participantes com anedotas da história de Napoleão, após o que dedicava todas as sessões ao rela- to da sua epifania, inteiramente baseada nos textos sagrados, na filosofia, na his- tória do homem de Santa Helena – um relato de revelação baseado na soberba de quem decide desfrutar e debochar da morte. Oraci liderava as discussões sobre a verdade, alimentando nos membros a excepcionalidade de cada um, a grandeza de cada personalidade ali presente; fala- va de amor e da visão faiscada que ob- teve, por meio da conexão com o irmão; explorava, como Jerônimo, a credulidade daqueles tolos. Por fim, todos tomavam 10