ticulares para adolescentes e jovens uni-
versitários, lecionando filosofia, ciências
geológicas, português e alemão. Talvez,
penso eu, seja tempo de dar voz aos nos-
sos personagens, caso contrário arrisco
perder a densidade do caráter dos irmãos
na cabeça do leitor.
JERÔNIMO: pronto! Achei uma verdade
absoluta. Tudo é opinião! Até a morte é
opinião.
ORACI: bem, se me questiona até que
ponto a nossa compreensão da morte é
exata ou próxima do melhor entendi-
mento, há aí uma boa discussão. Mas é
uma constatação ajustada a de que che-
gará o dia em que teus órgãos, teu cére-
bro e todo o resto, pararão de funcionar.
Não há como combater esse fato.
Aproveitando-se dum momento
de profunda desilusão do irmão, que che-
gou a contemplar o suicídio após uma
história de amor não retribuída, Jerôni-
mo foi à casa de Oraci com o intuito de
colocar em prática uma antiga confabu- JERÔNIMO: pois bem, eu discordo. Por-
que meus órgãos deixarão de se mexer
lação que há anos arquitetava.
qualquer dia desses não me dá garantia
JERÔNIMO: irmão, caso não se interesse, nenhuma de que o que ocorre é o fim da
nem se preste a alongar a conversa. Mas força pulsante, que é o fim e ponto. Você
quero saber: que pensas da morte? E sem pode brincar com as letras o quanto qui-
risos desta vez!
ser: mas restaremos eu, você e a incerte-
za.
ORACI: oras, você só está tentando, mais
uma vez, me testar. Acredite, no dia em ORACI: deixe os ares de filósofo meu ir-
que encontrar alguma verdade absoluta mão, você só confirma a ignorância ou
que valha a pena, você vai ser o primeiro reproduz a narrativa da vida eterna. Per-
a saber. Se não chegou o tal dia, não hou- gunto então, e daí?
ve progresso. A única verdade absoluta
JERÔNIMO: ... a narrativa cristã é a da
continua sendo a certeza da morte.
certeza da vida, a que proponho é a da
JERÔNIMO: pois então, fiquei martelan- dúvida. Primeiro, você sabe que me apai-
do esses dias: a morte bem que me servi- xono por teorias da conspiração, sabe
ria para uma boa teoria da conspiração. também que elas, mesmo com toda pes-
E se após a morte, pasme, não houvesse quisa, são apenas estórias, difíceis de pro-
nada? E se Deus for algo como um tijo- var, mais difícil ainda entender de onde
lo? E se não houver semelhança alguma vieram, mais complicado então separar
entre nós e Ele ou Ela ou Aquilo. E se a o ego do suposto originador da verdade
morte foi apenas algo inventado na an- do conto, e por aí vai. Segundo, quero te
tiguidade por uma tertúlia de astutos e, propor um experimento.
por fazer tanto sentido, ou ainda, ser tão
sedutora, acabou por ser reproduzida em ORACI: verdade absoluta, teoria da cons-
mitos, nas religiões, nas famílias, nessa piração, opinião e o que mais?
rotina?
ORACI: mas irmão, quase nenhuma des-
sas perguntas que você faz