" LOIRA DAS ANCAS LARGAS "
" LOIRA DAS ANCAS LARGAS "
Por Heloisa Menezes
Era um t – ritmo que não saía da cabeça
– – o fino do fraseado do samba –
– caixa de fósforos abafada por dedos , ampliado por unhas –
– e de repente , o violão entrava com o primeiro acorde : –
– o seguinte tinha a –
– quando , então , entrou a banda toda :
–
Se chorei ? Melhor dizer que sim , pra ajudar a explicar . Porque foi numa voz terna que irrompia em sensualidade que ouvi , pela primeira vez , o desejo pubescente daquele refrão :
“
Não se é santa aos dezessete anos : não sou a exceção , mas ... Como é que pode ?! Uma vontade tão banal : ser par ! Meu ?! Juras de amores eu já tinha tido tantas : bilhetinhos do colégio ; meninos me chamando para tomar sorvete ; tantos desenhos pornográficos que apareciam nas minhas coisas . Mas nada se igualará àquele som . Fui , naquela poesia
...
.”
6
musicada , protagonista em algo que não me pertencia , e essa é uma sensação sem igual . ( Sim , ninguém vai me convencer de que aquelas não tenham sido – em algum momento – minhas . Eu sei que já não são ; mas foram !)
O verso veio com uma alteração no compasso : de 4 / 4 passou a 3 / 4 , e tudo a correr mais depressa ! O cavaquinho acelerou –
–, o sete cordas contrapôs –
– e , do gogó aveludado do meu trovador , as sílabas tônicas eram moldadas pelo arquear e alongar de seus beiços – . .
Voltaram ao refrão com ainda mais energia . Fechei os olhos e percebi a cuíca gemendo e depois gritando , como uma mulher excitada . Abri os olhos e vi aquele monstro dos braços fortes e dentes brancos masturbando o instrumento com um algodão encharcado em álcool .