Madame Eva Nº2 | Seite 8

" LOIRA DAS ANCAS LARGAS "
" LOIRA DAS ANCAS LARGAS "
Por Heloisa Menezes

Era um t – ritmo que não saía da cabeça

– – o fino do fraseado do samba –
– caixa de fósforos abafada por dedos, ampliado por unhas –
– e de repente, o violão entrava com o primeiro acorde: –
– o seguinte tinha a –
– quando, então, entrou a banda toda:
Se chorei? Melhor dizer que sim, pra ajudar a explicar. Porque foi numa voz terna que irrompia em sensualidade que ouvi, pela primeira vez, o desejo pubescente daquele refrão:
Não se é santa aos dezessete anos: não sou a exceção, mas... Como é que pode?! Uma vontade tão banal: ser par! Meu?! Juras de amores eu já tinha tido tantas: bilhetinhos do colégio; meninos me chamando para tomar sorvete; tantos desenhos pornográficos que apareciam nas minhas coisas. Mas nada se igualará àquele som. Fui, naquela poesia
...
.”

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musicada, protagonista em algo que não me pertencia, e essa é uma sensação sem igual.( Sim, ninguém vai me convencer de que aquelas não tenham sido – em algum momento – minhas. Eu sei que já não são; mas foram!)
O verso veio com uma alteração no compasso: de 4 / 4 passou a 3 / 4, e tudo a correr mais depressa! O cavaquinho acelerou –
–, o sete cordas contrapôs –
– e, do gogó aveludado do meu trovador, as sílabas tônicas eram moldadas pelo arquear e alongar de seus beiços –..
Voltaram ao refrão com ainda mais energia. Fechei os olhos e percebi a cuíca gemendo e depois gritando, como uma mulher excitada. Abri os olhos e vi aquele monstro dos braços fortes e dentes brancos masturbando o instrumento com um algodão encharcado em álcool.