Madame Eva Nº2 | Page 23

O VÃO
O VÃO
Por Bruna Viana

Conheci o Vão pela voz de meu pai. Pela sua palavra, vi a linha que a serra por ali faz, mais íngreme, ele diz, que a estrada de Santos. Sei que o tempo de lá se percebe por amadureceres. Que setembros só chegam para trazer cajus. Novembros, mangabas, e dezembros para fazer brotar, rasteiros, pés de ananás. Sei que no Vão se caminha com o coração na sola dos sapatos. Que se sente em cada trecho do mato e nas curvas das pedras uma alegria transcendente de vida- o Vão é destino sim, verdade, mas também caminho. Por ali se passa por passar. Para ouvir infâncias de irmãos e primos. Para saber de tempos que, por vezes antigo, é onde ainda habita meu pai.

Não fui ao Vão, verdade, mas o sinto. Percebo-o, em detalhe, no olhar distante e vazio de meu pai.
Saudade de meu pai é o Vão.
Saudade, meu pai, é um vão.
Rafael M. de Assis © 2017

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