Madame Eva Nº2 | страница 24

EU MUITAS
EU MUITAS
Por Carolina Nogueira

Virei eu mesma no meio de uma briga monumental com o Outro.

Ele desejava viajar- eu não concordava. Abria a boca e gritava que eram planos idiotas. O que pode ser mais imbecil e imaturo que uma despedida de solteiro?
Mas no instante mesmo em que as palavras saíam da minha boca eu pensava que na verdade isso parecia bem divertido- e abria a boca e berrava que evidentemente jamais me importaria que o Outro viajasse, e que ótima a ideia de uma despedida de solteiro. Falar besteira, conhecer um lugar novo, não ter hora pra voltar.
O Outro saiu pela porta e a briga não terminou – na verdade foi aí que a briga começou. Eu no espelho. Brigando desesperadamente comigo mesma.
Argumentos pela viagem e contra a viagem fluíam como rios por todos os lados da minha cabeça- e todos eram meus. Eu concordava e discordava. Queria e não queria.
Insegura, boba e despreparada, me sentia abandonada. Forte, independente e decidida, me sentia livre e confiante, capaz de amar de maneira plena e madura – e ávida por viver também de maneira plena e madura. Era eu e eu. Eu e eu aos berros.
E, no parto de mim mesma, chorei sozinha ao descobrir que sou duas.
Mas isso foi muitos anos atrás- muito tempo antes de descobrir que sou muitas.

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