Madame Eva Nº2 | Page 12

SOL
SOL
Por Paulo Otávio Barreiros Gravina

Solange tinha muito amor para dar no Carnaval . Desde a adolescência , ia a todos os blocos . “ E por que não ganhar algo em troca ?”, pensava ela . Passou então a afanar a carteira dos meninos que beijava . Isso aumentava a excitação dela , mas a deixava tão preocupada que Sol decidiu começar a usar uma fantasia de policial “ para ninguém desconfiar ”. Comprara a fantasia , inclusive , com o dinheiro que havia “ confiscado ”.

Ela se exibia para as amigas menos assanhadas , contando como aquilo tudo era fácil . Segundo Sol , os garotos estavam sempre bêbados ou cheios de lança-perfume e , no meio daquela multidão , daquele roça-roça , ninguém conseguia perceber quem estava passando a mão em quem . “ A t é beijei uma menina ”, dizia ela orgulhosa , “ ela estava sem carteira , mas carregava a identidade e vinte e oito reais amarrados no prendedor de cabelos ... com uma camisinha bem no meio deles , que eu logo joguei fora .”
Certa vez , Sol acabou encontrando algo que não era uma carteira no bolso de alguém . Era um revólver . Sem querer , ela acabou puxando o gatilho e deu um tiro no próprio pé . Sol voltou a pular Carnaval só muitos anos depois , levando consigo seus bebês gêmeos em um carrinho duplo , quando já estava muito bem casada . Ela ficava revezando entre dar de mamar no peito e na mamadeira para os gêmeos . “ Preciso do reforço da mamadeira porque parei de comer carne ”, dizia a mãe .
Taka Iara © 2017

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