são os duzentos e seis.
Tarso, ali, sim, sorria em ironia ao consolar-se na futilidade da vida. Afinal, ele era o mais frio dos irmãos e além de não acreditar em assombrações, se convenceu de que também não acreditava na ressurreição da carne, conforme o Símbolo Apostólico. Imune à tristeza, conformou-se com a banalidade da experiência mundana, reduzida, em pouco, a duzentos e seis.
Seu sorriso contemplava tudo quanto era passageiro, quando sua conclusão foi questionada pelo choro sincero de sua sobrinha de quinze anos. Pobrezinha, não entenderia nada se ele se aproximasse para contar dos duzentos e seis. Com razão, pois quando nos preocupamos com a vida, não damos atenção ao que temos no corpo. Aquela criança estaria imune ao desespero vazio que vinha de reconhecer na vida a eminência da morte.
Mas a criança sabia mais do que Tarso julgava e veio lhe beijar o rosto,
-Obrigada, tio.-Pelo que, filhinha?
-Por ter ido ver a vovó.
E os duzentos e seis ossos de sua mãe foram-lhe substituídos pelas incontáveis lágrimas vertidas por todos aqueles que a conheceram, a começar pelas de sua sobrinha de quinze anos. Tarso, então, julgou-se vencido e seu rosto, recém beijado, fora tomado por uma palidez de como quem vê um fantasma. Apesar de toda sua frieza, o filho, agora órfão, percebeu que acreditava, sim, nas assombrações. Não naquelas que assoviam pela noite, assustando criancinhas, mas naquela presente na eminência da morte de uma vida mal vivida.
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