Madame Eva Nº1 | Page 18

PONTO POR PONTO
PONTO POR PONTO
Por Hugo Wagner

Torno à lembrança daquela enfermeira suturando-me, a cada vez que alguém reclama da solidão. Mesmo eu desacordado, meu inconsciente encarregou-se de observar com cuidado a agulha que entrava e saía do meu couro. Ponto por ponto; porque – no fundo – sabia que em algo aquelas cicatrizes teriam de me servir.

Sei o que é abrir as veias, rezando a um Deus em quem não se acredita, pedindo um bando inextricável de milagres. Sei o que é tentar a morte pelo paradoxo de não aguentar mais o ermitério da vida. Levo nos braços os quarenta pontos que me devolveram a companhia efêmera que eu sou para mim.
Quarenta lembretes que fiz questão de nomear:
Paulo Hahnemann © 2016
O primeiro chamei de. Foi por onde comecei, bem na articulação do punho esquerdo, e de onde fiz correr a navalha até a um terço do meu antebraço, antes de passá-la à outra mão. Miguel foi meu único amigo do primário; hoje, não é outra coisa que não um vulto na memória – caso recorrente na saga da minha solidão.
Os três pontos seguintes levam os nomes de meus irmãos:, e. Nascemos os três do mesmo útero, mas, como imãs, nossos polos iguais nos impuseram a repulsa. Afonso casou, teve filhos e foi morar

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