RESPOSTA AO DESABAFO DE UM POETA
RESPOSTA AO DESABAFO DE UM POETA
“ You and I are human beings: most people are snobs”
Por Luís de Castelões
Prezados senhores,
Desculpem-me a aparente gratuidade do comentário a seguir, mas o Sr. Cristiano Sampaio é um vaníloquo da mais baixa estripe. Em seu discurso proferido há pouco nesta primorosa Conferência, sua presbiofrenia o levou a autodenominar-se“ poeta”, a fim de passar credibilidade e imbuir – em quem facilmente se deixa convencer – a ideia de que a beleza existe por si só. Disparate! O belo existe apenas através dos aquilatantes olhos da desordeira humanidade. Engana-se o Sr. Sampaio ao defender uma beleza pura, sem a mácula do significado, uma essência estética e nada mais: engana-se!
Mas mais do que se enganar, tenta enganar! Não só a beleza não existe enquanto verdade metafísica, como advogar por sua existência equivale a plantar explosivos no campo minado da retórica. Queixa-se o Sr. Sampaio da politização da estética, enquanto termina, ele próprio, por politizá-la com sua mensagem de“ buscar a beleza” e nada mais.
Temo que sua nefasta oratória ressoe nos ouvidos de algum artista desiludido, mal pago ou desassistido; por isso, não posso calar diante de tantas asnadas. Vejo-me obrigado a tornar públicas minhas críticas a esse senhor e sua tradição acataléptica.
Em primeiro lugar, o Sr. Sampaio confunde conceitos a seu bel-prazer, trata a beleza como fenômeno metafísico, enquanto a define no seio da estética como ocorrência física. Em seu discurso disse, explicitamente, que a beleza pode ser materializada pelas mãos de um artista, o que resulta em uma contradição inegável de tornar o inalcançável tangível. O impertinente palestrante busca fazer da arte uma atividade paisagista, em que, ao invés de capturar uma cena, ao artista caberia apenas a faculdade de capturar o belo. Só que o belo, o próprio Sr. Sampaio o admite, só existe para quem acredita nele, ou seja: o ideal de beleza repousa numa fé assumida e não em manifestações reais.
Fácil, banal, por demais simples, não é, Sr. Sampaio? Sua pregação pela beleza estética sem símbolos só faz sentido quando se professa o mesmo evangelho que o senhor! Quando se aceita que o belo existe e ponto. A beleza fica dependente da crença do artista, cujo trabalho se limita a retratar uma divindade, desprovida de mensagens.
E é precisamente nessas consequências à labuta do artista que o texto do Sr. Sampaio comete sua maior injustiça e fere a integridade dos discípulos de Apolo. Pois ao valorizar a beleza acima do artista e de sua obra, o Sr. Sampaio reduz o trabalho criativo a um espetáculo de pique-esconde, em que poetas, pintores, arquitetos ou músicos tentam apenas encontrar o belo e não o criar.
A arte é a única linguagem que não é refém de seus símbolos, pois se para o matemático os números são infinitos, os resultados das combinações, não: dois mais dois são sempre quatro. Já para o poeta, argumenta-se que as pa-
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