Madame Eva Nº1 | Page 14

RESPOSTA AO DESABAFO DE UM POETA
RESPOSTA AO DESABAFO DE UM POETA
“ You and I are human beings : most people are snobs ”
Por Luís de Castelões
Prezados senhores ,

Desculpem-me a aparente gratuidade do comentário a seguir , mas o Sr . Cristiano Sampaio é um vaníloquo da mais baixa estripe . Em seu discurso proferido há pouco nesta primorosa Conferência , sua presbiofrenia o levou a autodenominar-se “ poeta ”, a fim de passar credibilidade e imbuir – em quem facilmente se deixa convencer – a ideia de que a beleza existe por si só . Disparate ! O belo existe apenas através dos aquilatantes olhos da desordeira humanidade . Engana-se o Sr . Sampaio ao defender uma beleza pura , sem a mácula do significado , uma essência estética e nada mais : engana-se !

Mas mais do que se enganar , tenta enganar ! Não só a beleza não existe enquanto verdade metafísica , como advogar por sua existência equivale a plantar explosivos no campo minado da retórica . Queixa-se o Sr . Sampaio da politização da estética , enquanto termina , ele próprio , por politizá-la com sua mensagem de “ buscar a beleza ” e nada mais .
Temo que sua nefasta oratória ressoe nos ouvidos de algum artista desiludido , mal pago ou desassistido ; por isso , não posso calar diante de tantas asnadas . Vejo-me obrigado a tornar públicas minhas críticas a esse senhor e sua tradição acataléptica .
Em primeiro lugar , o Sr . Sampaio confunde conceitos a seu bel-prazer , trata a beleza como fenômeno metafísico , enquanto a define no seio da estética como ocorrência física . Em seu discurso disse , explicitamente , que a beleza pode ser materializada pelas mãos de um artista , o que resulta em uma contradição inegável de tornar o inalcançável tangível . O impertinente palestrante busca fazer da arte uma atividade paisagista , em que , ao invés de capturar uma cena , ao artista caberia apenas a faculdade de capturar o belo . Só que o belo , o próprio Sr . Sampaio o admite , só existe para quem acredita nele , ou seja : o ideal de beleza repousa numa fé assumida e não em manifestações reais .
Fácil , banal , por demais simples , não é , Sr . Sampaio ? Sua pregação pela beleza estética sem símbolos só faz sentido quando se professa o mesmo evangelho que o senhor ! Quando se aceita que o belo existe e ponto . A beleza fica dependente da crença do artista , cujo trabalho se limita a retratar uma divindade , desprovida de mensagens .
E é precisamente nessas consequências à labuta do artista que o texto do Sr . Sampaio comete sua maior injustiça e fere a integridade dos discípulos de Apolo . Pois ao valorizar a beleza acima do artista e de sua obra , o Sr . Sampaio reduz o trabalho criativo a um espetáculo de pique-esconde , em que poetas , pintores , arquitetos ou músicos tentam apenas encontrar o belo e não o criar .
A arte é a única linguagem que não é refém de seus símbolos , pois se para o matemático os números são infinitos , os resultados das combinações , não : dois mais dois são sempre quatro . Já para o poeta , argumenta-se que as pa-

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