Madame Eva Nº1 | Page 10

gritavam, queriam seu dinheiro, seus sapatos, sua carne. Levava chicotadas no rosto, e a cada rasgada, os esporões das pontas arrancavam o sangue que fervia em suas veias.“ Deixem-me morrer, tolos, deixem que eu sinta o suave gosto da terra em meus dentes e o abraço dos vermes em meu ventre!” Faltava-lhe o soco no olho ou o golpe de misericórdia na nuca.“ Seria melhor que houvesse uma bandeira hasteada por sobre a minha cabeça, mas nesses dias, nem isso nos é devido! Matem-me, desgraçados! Deem-me a morte de vagabundo que eu tanto mereço! E que se foda minha mãe e seu choro, hoje recolherei meu despojo, o sabor úmido do diesel pregado nesse asfalto!”
A lata de lixo, cuidadosamente arrumada, era um planeta gigantesco que violentamente o atraía. Como ele a odiava! A chutaria, sim, quebraria todos os seus dedos nela se preciso. Ou então, mergulharia nela, diminuiria seu tamanho, é preciso mergulhar nela, ora. É preciso mergulhar em uma mulher, é preciso sentir o sabor salgado de sua vagina, é preciso se agarrar ao gozo pra que ele não acabe.-Mas ele acaba, não dura um suspiro de alma e já é passado-.“ Logo agora, agora que eu havia conseguido, lutei tanto para tê-lo e já... já não o vejo.- Não quero seus braços, saia de mim!!!”
Errantes pelos becos e esquinas, sombras materializavam-se em seus olhos:“ O escuro me confunde, eu o temo muito, mas temo ainda mais a luz.”
“ Procure pelo chão, rapaz, que nesta cidade não faltam gramados. Mas se não os achar, o concreto daqui não é de se jogar fora, melhor que qualquer cama desses bundões! Como é doce a superfície áspera e fria do concreto penetrando nossa carne. Agora, um gramado sujo de orvalho, é como a roupa de u m rei! Ah se é....” – e ele se atirava de braços abertos-“ Me acorde amanhã. O dormir dessa noite calará a insensatez dos outros. Sim, a calará. E é bem ali que se aquieta minha lucidez. E deixem que atirem, rapaz!
Hahahaha! Que tenho eu com a minha vida? hoje minha cama é uma rajada de rifle. E que seja ser.”
Miram Luz © 2016

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