Madame Eva Mme Eva quinto numero | Page 6

A BRIGA DOS LÁBIOS Por Augusta Rubim “Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados... ” Machado de Assis, C erto dia, o lábio de cima acordou brigado com o lábio de baixo. Coisa de criança, um acúmulo de reclamações do vizinho. Aquela noite havia sido particularmente penosa, por- que o lábio inferior não parou de se re- mexer e transgredir os limites físicos de seu lugar na boca. - E todo dia que você acorda com os cantos babados? É culpa do maxilar que eu depois sou usado como rodo pra te secar!? É culpa do maxilar?! -Minha não é, responderam os dois lábios em silêncio. -Eu não tenho culpa, eximia- -se o de baixo, é o maxilar que não pára quieto e me faz ro- çar contra você! É o ma- xilar... O de cima não lhe deu ou- vidos. Ora, cada um que contro- le suas influên- cias! Afinal, ele tinha um crânio inteiro para domar e assim fazia. Não podia ser mais difícil controlar um maxilar do que um crâ- nio! Mas o de baixo, coitado, insistia em sua inocência, pedia desculpas mesmo alegando não ter culpa, o que só pro- vocou ainda mais a ira do lábio de cima. 4 Enquanto o lábio superior se ga-