Madame Eva Mme Eva quinto numero | Page 17

nha coragem falha. Idealizo apenas que, certamente, alguma das minhas garrafas chegou por lá e está à espera da minha companhia. prazenteira, esperava eu. O trajeto pelo interior da ilha era inusitado. Registro apenas que a nature- za não era intacta, embora não mostrasse No décimo quarto dia, tomado um uso esperado das coisas. Finalmente, pela angústia e pela incerteza, agarrei a surgiu a ilha-irmã. Ligavam os pontos jangada novamente, e parti em direção um pedaço de corda, e então percebi que, às duas irmãs. Fui comendo alguns fru- para cruzar de um lado a outro, seria pre- tos e mas cando minhas raízes preferidas, ciso subir rochedos, nadar com o corpo aquelas que enfiei na terceira garrafa. À meio submerso, provavelmente entrar medida que me aproximava, as ondas, as por completo na água, sempre seguro na correntes ficavam caóticas; o pouco de corda. alimento que sobrava foi todo ao mar; a Foi quando, terminada a travessia, jangada não avançava, mas poucos sinais havia de que poderia virar. Não hesitei: vi, como primeira imagem desta segun- pulei na água e, afoito e desengonçado, da ilha, uma das minhas garrafas, segura nadei em direção às ilhas. O medo da pelas mãos de uma mulher. Que angús- vida existente naquelas bandas era cor- tia! Meu corpo revirou com as lembran- tante. Pensava: há que reinar por aqui um ças de um contato há muito distante; animal colossal e monstruoso, um pro- meu pensamento acelerou, indo numa tetor digno do mistério que ronda estas passada só, do amor ao egoísmo. E, na ilhas. Provavelmente, afugentamos um minha visão, aquela garrafa, a de núme- ao outro. Não podia sustentar os olhos ro 2, encharcada do cheiro cru da inten- abertos por longos períodos; nadava sub- ção, cumpria seu destino. Corri gritando merso e logo voltava a superfície, até que repetidamente: quebre a garrafa, quebre ali permaneci esperando o momento em a garrafa, quebre a garrafa! que conseguiria caminhar em direção à praia. A jangada restou como oferenda às ilhas. Não há motivo para uma descri- ção; não era o formato das folhas, a cor das pedras ou o som de um rio que im- plorava atenção. A areia ali guardava os destroços de um conflito que deixou os- sadas espalhadas por todo canto; armas e lanças que não conhecia esbarravam nos meus pés à medida que caminhava. E pa- recia, portanto, que, durante aqueles tre- ze dias em que naveguei, a água do mar houvesse afastado do resto do arquipéla- go toda aquela massa que não cheirava à vida. Ali não encontrei nada; nada que valha o peso e a importância das minhas garrafas. Embrenhei-me na mata e segui caminhando, aguardando encontrar o fio de sei-lá-o-quê que conectava aquela ter- ra esmarrida à sua irmã possivelmente 15