nha coragem falha. Idealizo apenas que,
certamente, alguma das minhas garrafas
chegou por lá e está à espera da minha
companhia.
prazenteira, esperava eu.
O trajeto pelo interior da ilha era
inusitado. Registro apenas que a nature-
za não era intacta, embora não mostrasse
No décimo quarto dia, tomado um uso esperado das coisas. Finalmente,
pela angústia e pela incerteza, agarrei a surgiu a ilha-irmã. Ligavam os pontos
jangada novamente, e parti em direção um pedaço de corda, e então percebi que,
às duas irmãs. Fui comendo alguns fru- para cruzar de um lado a outro, seria pre-
tos e mas cando minhas raízes preferidas, ciso subir rochedos, nadar com o corpo
aquelas que enfiei na terceira garrafa. À meio submerso, provavelmente entrar
medida que me aproximava, as ondas, as por completo na água, sempre seguro na
correntes ficavam caóticas; o pouco de corda.
alimento que sobrava foi todo ao mar; a
Foi quando, terminada a travessia,
jangada não avançava, mas poucos sinais
havia de que poderia virar. Não hesitei: vi, como primeira imagem desta segun-
pulei na água e, afoito e desengonçado, da ilha, uma das minhas garrafas, segura
nadei em direção às ilhas. O medo da pelas mãos de uma mulher. Que angús-
vida existente naquelas bandas era cor- tia! Meu corpo revirou com as lembran-
tante. Pensava: há que reinar por aqui um ças de um contato há muito distante;
animal colossal e monstruoso, um pro- meu pensamento acelerou, indo numa
tetor digno do mistério que ronda estas passada só, do amor ao egoísmo. E, na
ilhas. Provavelmente, afugentamos um minha visão, aquela garrafa, a de núme-
ao outro. Não podia sustentar os olhos ro 2, encharcada do cheiro cru da inten-
abertos por longos períodos; nadava sub- ção, cumpria seu destino. Corri gritando
merso e logo voltava a superfície, até que repetidamente: quebre a garrafa, quebre
ali permaneci esperando o momento em a garrafa, quebre a garrafa!
que conseguiria caminhar em direção à
praia. A jangada restou como oferenda às
ilhas.
Não há motivo para uma descri-
ção; não era o formato das folhas, a cor
das pedras ou o som de um rio que im-
plorava atenção. A areia ali guardava os
destroços de um conflito que deixou os-
sadas espalhadas por todo canto; armas e
lanças que não conhecia esbarravam nos
meus pés à medida que caminhava. E pa-
recia, portanto, que, durante aqueles tre-
ze dias em que naveguei, a água do mar
houvesse afastado do resto do arquipéla-
go toda aquela massa que não cheirava
à vida. Ali não encontrei nada; nada que
valha o peso e a importância das minhas
garrafas. Embrenhei-me na mata e segui
caminhando, aguardando encontrar o fio
de sei-lá-o-quê que conectava aquela ter-
ra esmarrida à sua irmã possivelmente
15