MAC N.º 1 - O Guerreiro | Página 8

- MAC - O Guerreiro - 1ª Edição Literatura – Se tudo isso nos é incutido pela sociedade, o Guerreiro não deveria lutar para a mudar e libertar os outros? – Um Guerreiro não tem pena dos outros, porque sabe que esse sentimento é uma simples projecção da autopiedade. Tudo o que ele tem é a sua impecabilidade e tudo o que ele pode fazer é esperar que esta inspire os restantes a seguir a senda da mudança. Só se todos o fizéssemos o mundo poderia realmente mudar. Ouve este trecho: “A tragédia do homem actual não é a sua condição, mas a falta de vontade de mudar. É muito fácil planejar revoluções colectivas, mas, mudar genuinamente, acabar com a auto-compaixão, eliminar o ego, abandonar os nossos hábitos e caprichos... ah, isso sim é outra coisa! Os feiticeiros dizem que a verdadeira rebeldia e a única saída do ser humano como espécie, é fazer uma revolução contra a sua própria estupidez. Como, compreenderão, trata-se de um trabalho solitário.” – A autopiedade, o ego, os hábitos e os caprichos são os grandes inimigos do Guerreiro? – Não, são o lixo, as barreiras interiores que este deve superar para ser verdadeiramente livre. Os inimigos do Guerreiro são quatro, mas são outros: medo, clareza, poder e a velhice. O medo é que nos prende à nossa zona de conforto e nos afasta do mistério; sem encarares o mistério, não és um guerreiro. Depois de superado o primeiro, vem a clareza, que faz com que aches que já tens todo o conhecimento do mundo e que, consequentemente, estagnes. Se a superares, defrontas-te com o poder e se não o conseguir controlar e domar, serás vencida por ele. Por fim, tens a velhice, que não é possível derrotar totalmente, apenas afastar. – E como deitamos fora esse lixo? – Essencialmente perdendo a autoimportância. Em parte, é por isso que a morte é a grande amiga e conselheira do Guerreiro, porque o relembra que ele não é importante. Nem ele, nem nada, pois tudo é passageiro. Além disso, só fazendo amizade com a morte nos tornamos impecáveis, pois temos consciência que cada acto pode ser o último. – Para terminar esta primeira conversa sobre o Guerreiro, qual a grande diferença entre este e o homem-comum? – A principal diferença é que o Guerreiro encara tudo como um desafio, enquanto o homem-comum vê tudo como um presente ou um castigo. O primeiro assume responsabilidade por estar vivo neste maravilhoso sítio, o segundo responsabiliza este sítio e todos os que o habitam pela sua existência. Resumindo, é isso… Se fôssemos falar de tudo, terias de escrever um livro (risos). Todas as citações presentes foram retiradas do livro Encontros Com o Nagual, de Armando Torres. 8