- MAC - O Guerreiro - 1ª Edição
Literatura
– Se tudo isso nos é incutido pela sociedade, o Guerreiro não deveria lutar para a mudar e
libertar os outros?
– Um Guerreiro não tem pena dos outros, porque sabe que esse sentimento é uma simples
projecção da autopiedade. Tudo o que ele tem é a sua impecabilidade e tudo o que ele pode
fazer é esperar que esta inspire os restantes a seguir a senda da mudança. Só se todos o fizéssemos o mundo poderia realmente mudar.
Ouve este trecho: “A tragédia do homem actual não é a sua condição, mas a falta de vontade
de mudar. É muito fácil planejar revoluções colectivas, mas, mudar genuinamente, acabar com
a auto-compaixão, eliminar o ego, abandonar os nossos hábitos e caprichos... ah, isso sim é
outra coisa! Os feiticeiros dizem que a verdadeira rebeldia e a única saída do ser humano como
espécie, é fazer uma revolução contra a sua própria estupidez. Como, compreenderão, trata-se
de um trabalho solitário.”
– A autopiedade, o ego, os hábitos e os caprichos são os grandes inimigos do Guerreiro?
– Não, são o lixo, as barreiras interiores que este deve superar para ser verdadeiramente livre.
Os inimigos do Guerreiro são quatro, mas são outros: medo, clareza, poder e a velhice. O
medo é que nos prende à nossa zona de conforto e nos afasta do mistério; sem encarares o
mistério, não és um guerreiro. Depois de superado o primeiro, vem a clareza, que faz com que
aches que já tens todo o conhecimento do mundo e que, consequentemente, estagnes. Se a
superares, defrontas-te com o poder e se não o conseguir controlar e domar, serás vencida por
ele. Por fim, tens a velhice, que não é possível derrotar totalmente, apenas afastar.
– E como deitamos fora esse lixo?
– Essencialmente perdendo a autoimportância. Em parte, é por isso que a morte é a grande
amiga e conselheira do Guerreiro, porque o relembra que ele não é importante. Nem ele, nem
nada, pois tudo é passageiro.
Além disso, só fazendo amizade com a morte nos tornamos impecáveis, pois temos consciência que cada acto pode ser o último.
– Para terminar esta primeira conversa sobre o Guerreiro, qual a grande diferença entre este
e o homem-comum?
– A principal diferença é que o Guerreiro encara tudo como um desafio, enquanto o homem-comum vê tudo como um presente ou um castigo. O primeiro assume responsabilidade por estar
vivo neste maravilhoso sítio, o segundo responsabiliza este sítio e todos os que o habitam pela
sua existência.
Resumindo, é isso… Se fôssemos falar de tudo, terias de escrever um livro (risos).
Todas as citações presentes foram retiradas do livro Encontros Com o Nagual, de Armando Torres.
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