MAC N.º 1 - O Guerreiro | Page 7

- MAC - O Guerreiro - 1ª Edição Literatura O Guerreiro “VS” Homem Comum Perante a temática desta primeira edição, fazia todo o sentido conversar com Francisco Rasteiro, pessoa que, directa ou indirectamente, nos mostrou o trabalho de Carlos Castañeda. O nosso conceito de Guerreiro vem da sua obra literária e não do sentido mais comum do termo. Esta conversa decorreu numa belíssima e acolhedora gruta. Onde, entre confissões e autocríticas, falámos das diferenças que existem entre o Guerreiro e o homem-comum. MAC – Um guerreiro, normalmente, é visto como uma pessoa violenta. No entanto, não é bem esse o conceito que Castañeda transmite… Rasteiro – (Riu-se, abriu o livro que tinha ao colo e começou a ler a primeira página.) “Que queres que te diga? - perguntou - Que são pacifistas? Pois não são! [...] Um guerreiro é feito para o combate, o seu descanso é a guerra. Ao contrário das disputas mesquinhas, nas quais os humanos se envolvem diariamente, por interesses sociais, religiosos ou económicos, a guerra do Feiticeiro não está dirigida contra os outros, mas contra as suas próprias fraquezas.” Ou seja, o Guerreiro não é violento nem pacifico, pelo menos nos termos que nós usamos. Isto porque está sempre em luta, mas consigo mesmo, e a sua paz não é submissa, “mas sim um estado imperturbável de silêncio interior e disciplina”. A principal diferença entre um Guerreiro que é também Homem de Conhecimento e os outros é essa. A guerra do primeiro é sobretudo interna e tem como propósito conquistar-se a si próprio, enquanto o segundo guerreia com o mundo e procura conquistar os outros. – Mas, ao mesmo tempo, um Guerreiro tem de se aceitar tal como é. – Sim, pode parecer contraditório, mas não é. O Guerreiro aceita a pessoa que tem sido porque, graças à Recapitulação, conhece a sua história pessoal, o fluxo existencial que o transformou naquilo que é. Seria uma perda de tempo e energia ficar frustrado com isso, portanto ele simplesmente luta para se limpar de todo o lixo que foi acumulando ao longo dos tempos. – Esse lixo que referes, no fundo é aquilo que a nossa cultura nos incute e nos ensina ao longo da vida. – É como diz aqui: “Ao socializarmos, fomos domesticados da mesma maneira como é domesticado um animal, por meio de estímulos e castigos. Nós fomos treinados para viver e morrer docilmente, seguindo códigos de comportamento antinaturais que nos abrandam, fazendo com que percamos o ímpeto inicial, até que o espírito do homem já não possa ser notado. Considerando que nós nascemos da disputa, ao negar essa tendência básica, a sociedade em que vivemos arranca a herança guerreira que nos transforma em seres mágicos.” O Guerreiro sabe que não pode ser dócil, porque o Universo é predatório. Não é, Carzé? – Até às entranhas!!! (Risada geral.) 7