- MAC - O Guerreiro - 1ª Edição
Literatura
O Guerreiro “VS” Homem Comum
Perante a temática desta primeira edição, fazia todo o sentido conversar com Francisco
Rasteiro, pessoa que, directa ou indirectamente, nos mostrou o trabalho de Carlos
Castañeda. O nosso conceito de Guerreiro vem da sua obra literária e não do sentido mais
comum do termo.
Esta conversa decorreu numa belíssima e acolhedora gruta. Onde, entre confissões e
autocríticas, falámos das diferenças que existem entre o Guerreiro e o homem-comum.
MAC – Um guerreiro, normalmente, é visto como uma pessoa violenta. No entanto, não é
bem esse o conceito que Castañeda transmite…
Rasteiro – (Riu-se, abriu o livro que tinha ao colo e começou a ler a primeira página.) “Que
queres que te diga? - perguntou - Que são pacifistas? Pois não são! [...] Um guerreiro é feito
para o combate, o seu descanso é a guerra.
Ao contrário das disputas mesquinhas, nas quais os humanos se envolvem diariamente,
por interesses sociais, religiosos ou económicos, a guerra do Feiticeiro não está dirigida
contra os outros, mas contra as suas próprias fraquezas.”
Ou seja, o Guerreiro não é violento nem pacifico, pelo menos nos termos que nós usamos.
Isto porque está sempre em luta, mas consigo mesmo, e a sua paz não é submissa, “mas
sim um estado imperturbável de silêncio interior e disciplina”.
A principal diferença entre um Guerreiro que é também Homem de Conhecimento e os
outros é essa. A guerra do primeiro é sobretudo interna e tem como propósito conquistar-se a si próprio, enquanto o segundo guerreia com o mundo e procura conquistar os
outros.
– Mas, ao mesmo tempo, um Guerreiro tem de se aceitar tal como é.
– Sim, pode parecer contraditório, mas não é. O Guerreiro aceita a pessoa que tem sido
porque, graças à Recapitulação, conhece a sua história pessoal, o fluxo existencial que o
transformou naquilo que é. Seria uma perda de tempo e energia ficar frustrado com isso,
portanto ele simplesmente luta para se limpar de todo o lixo que foi acumulando ao longo
dos tempos.
– Esse lixo que referes, no fundo é aquilo que a nossa cultura nos incute e nos ensina ao
longo da vida.
– É como diz aqui: “Ao socializarmos, fomos domesticados da mesma maneira como é
domesticado um animal, por meio de estímulos e castigos.
Nós fomos treinados para viver e morrer docilmente, seguindo códigos de comportamento antinaturais que nos abrandam, fazendo com que percamos o ímpeto inicial, até que o
espírito do homem já não possa ser notado. Considerando que nós nascemos da disputa,
ao negar essa tendência básica, a sociedade em que vivemos arranca a herança guerreira
que nos transforma em seres mágicos.”
O Guerreiro sabe que não pode ser dócil, porque o Universo é predatório. Não é, Carzé?
– Até às entranhas!!! (Risada geral.)
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