Introdução
um Cristianismo apostólico maduro, se ainda está sobrecarregado
pelos resultados desses descuidos de séculos passados, ou, se mesmo
agora, pela primeira vez, se vê tentado a comprometer sua essência
tão inflexivelmente defendida pelos apóstolos.
Porém, Atos tem mais para nos ensinar ao longo dessa linha na
Seção Cinco (16:6-19:20). Em Filipos (16:16-18), Lucas registra como o
caminho da salvação corria o risco de ser confundido com espiritismo,
na mente do povo, e como Paulo insistiu na diferença entre os dois
e acabou na prisão por causa disso. Então, voltando à questão da
possessão demoníaca em 19:13-19, Lucas conta como, em Éfeso, o
próprio mundo espiritual deu poderosa evidência da diferença entre
Jesus e Paulo por um lado, e um aspirante a exorcista judeu, pelo
outro. Em 17:7-9, Lucas conta como certos judeus tentaram fingir,
diante dos governantes de Tessalônica, que o evangelho pregado por
Paulo era, de fato, uma mensagem política, subversiva ao governo
romano. O registro de Lucas sobre as pregações de Paulo naquele
lugar naturalmente mostra, muito claramente, a diferença entre o
Cristianismo e qualquer forma de política.
Então, novamente, o discurso de Paulo perante o Areópago em
Atenas (17:16-34) nos mostra a diferença essencial entre o evangelho
cristão e ambas religião pagã e filosofia grega. E, finalmente, Lucas
até acha importante relatar um incidente em Éfeso (19:1-7), que
demonstrava as diferenças na experiência espiritual entre os discípulos
de João Batista e os crentes maduros no Senhor Jesus Cristo.
Não precisamos parar agora para examinar quais eram todas
essas diferenças. O ponto é que, ao registrar os incidentes que expõem
tais diferenças, Lucas não está mostrando apenas a pregação do
evangelho pelos apóstolos: ele, mais uma vez, nos convida a assistir ao
Cristianismo definir-se sozinho por meio desses contrastes vigorosos
entre si e o espiritismo, a política, a religião e a filosofia pagãos.
O mesmo acontece na última e mais longa seção do livro (19:21-
28:31). Essa seção é, em alguns aspectos, muito diferente das cinco
primeiras, uma vez que, nela, Paulo não se engaja tanto na pregação do
evangelho como na defesa pública dele, muitas vezes, nos tribunais. Ele
é constantemente obrigado a assinalar não o que o evangelho é, mas o
que ele não é. Mas, para o nosso presente propósito, isso tem o mesmo
efeito. O registro de Lucas prossegue para tornar claro que Paulo e o
evangelho não são o que as pessoas ignorantemente imaginavam que
fossem, ou o que as pessoas maliciosamente deturparam como sendo;
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