Introdução
estar por trás deles. Algumas vezes, como em Filipos (16:16-40) e em
Éfeso (19:23-41), foram os adeptos de várias religiões gentílicas que os
cristãos haviam perturbado muitíssimo. Mais frequentemente, como
na Antioquia da Pisídia (13:50), Listra (14:19), Tessalônica (17:5-9),
Bereia (17:13), Corinto (18:12-17) e Jerusalém (21:27-26:32), foram os
judeus.
Ora, os romanos eram, no todo, razoavelmente tolerantes com
outras religiões; mas uma coisa os tornava muito impacientes: era
quando as diferenças entre as crenças e práticas religiosas levavam
à desordem civil. Lucas mesmo nos conta (18:2) que o Imperador
Cláudio, em certo momento, ordenou que todos os judeus partissem
de Roma; e, a partir do relato desse evento, dado pelo historiador
romano Suetônio (Vida de Cláudio XXV.4), pareceria que o que
havia provocado a cólera de Cláudio nessa ocasião era a "discórdia e
desordem na comunidade judaica em Roma, resultante da introdução
do Cristianismo a uma ou mais sinagogas da cidade". 2
Sendo assim, Lucas obviamente tinha alguma explicação a dar
quando ele escreveu "sobre as origens do Cristianismo" em favor
de certo Teófilo. Exatamente quem Teófilo era, não sabemos. Pelo
título "excelentíssimo" que Lucas lhe concede, no prólogo de seu
Evangelho (Lucas 1:3), parece que ele era uma pessoa de alguma
eminência. Ele pode ter sido "um membro representante do público
inteligente da classe média de Roma", 3 interessado no Cristianismo,
mas ainda não um convertido. Ou ele podia já ser um crente. Em
qualquer um dos casos, era importante para Lucas mostrar-lhe que,
em nenhuma ocasião, foram os cristãos que começaram os tumultos.
Os cristãos não saíam por aí insultando as religiões das outras
pessoas ou comportando-se de forma censurável em seus templos
(19:23-41; 21:27-29; 24:10-13). Os cristãos, embora eles próprios muito
perseguidos, nunca perseguiram ninguém. Paulo havia, de fato,
perseguido violentamente alguns de seus colegas judeus, de cujas
crenças religiosas ele não gostava, (7:58; 8:3; 9:1-2) antes de se tornar
um cristão; mas, depois, ele nunca mais perseguiu ninguém nem
mesmo retaliou contra aqueles que constantemente o perseguiam
(28:17-22, especialmente a última parte do versículo 19).
Mas, se Teófilo fosse um homem de reflexões, e ele certamente
era, havia uma questão mais profunda que Lucas tinha de responder
para ele. Admitindo que os cristãos não iniciaram os tumultos
no sentido de serem os primeiros a atirarem pedras ou atacarem
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