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Em Defesa de Deus
Um corolário do antiteísmo é que por “religião” os novos ateus têm,
especificamente, em mente as grandes religiões monoteístas do
judaísmo, do cristianismo e do islamismo, dando ênfase especial ao
cristianismo. As religiões panteístas, como o hinduísmo, e as religiões
que poderiam ser razoáveis e alternativamente classificadas como
filosofias, tais como o confucionismo e certas formas de budismo,
recebem pouco ou nenhum destaque na literatura do novo ateu.
Cresci na Irlanda do Norte e posso entender aqueles que pensam
que a única solução para os problemas do mundo é livrar-se da
religião. Mas, é precisamente porque fui criado na Irlanda do Norte
e, no entanto, permaneci sendo um cristão convicto, que posso,
justamente, ter uma contribuição a fazer para corrigir um perceptível
desequilíbrio inquietante e perigoso na lógica da abordagem dos
novos ateus; tanto no que se refere ao diagnóstico que eles fazem,
quanto à solução que eles propõem.
Não estou sozinho ao ter essa preocupação. Muitos ateus a
compartilham. Barbara Hagerty, em seu relatório NPR 50, mencionado
nesta introdução, destaca que a reação ao aumento da agressividade
dos ateus não conta com uma aprovação universal entre eles.
Ela cita as palavras do ateu Paul Kurtz sobre os novos ateus: “Eu
os considero fundamentalistas ateus. Eles, lamentavelmente, são
antirreligiosos e maldosos. Agora, eles são muito bons ateus e
pessoas muito dedicadas que não acreditam em Deus. Mas existe
essa fase agressiva e militante do ateísmo, e isso faz mais mal do
que bem”. O interessante aqui é que Paul Kurtz foi o fundador do
Centro de Investigação, cuja missão é “promover uma sociedade
secular baseada na ciência, na razão, na liberdade de investigação
e nos valores humanistas”. Essa sociedade é a organizadora de um
“Concurso de Blasfêmias” no qual os participantes são convidados
a apresentar declarações curtas e críticas das crenças religiosas.
Hagerty informou que Kurtz afirma ter sido deposto de seu cargo no
Centro de Investigação por um “golpe palaciano”.
É evidente que os ateus estão divididos no que se refere à abordagem
agressiva dos novos ateus, e alguns a consideram bastante
embaraçosa. Seu constrangimento reflete o do filósofo Michael Ruse
quando ele escreveu a seguinte resenha para o livro de McGraths, The
Dawkins Delusion? (O Delírio de Dawkins?): 51 “The God Delusion (Deus,
um Delírio) faz-me sentir envergonhado de ser ateu e os McGraths
mostram por quê”. Por essa razão, é importante perceber desde o