Introdução
11
não me rotule. Deixe-me crescer e escolher por mim mesmo”. No
entanto, em uma irônica e flagrante contradição com sua primeira
campanha de cartazes, na qual o ateísmo era o pré-requisito para a
alegria, resultou ser que as crianças sorridentes, selecionadas pelos
ateus para encarnar sua visão de felicidade infantil, eram filhos de uma
família cristã devota. Segundo o comentário do pai das crianças, o
fato de que os ateus julgassem que aquelas crianças especificamente
eram felizes e livres, sem conhecer seus antecedentes familiares, foi
considerado como um grande elogio. 14
Mais adiante, comentarei por que sou realmente solidário com o
desejo dos ateus de que crianças não sejam rotuladas e possam
decidir por si mesmas. A questão dos pais que ensinam suas crenças
aos seus filhos é, naturalmente, um assunto bem diferente.
No momento, Richard Dawkins parece ser o principal motorista do
ônibus ateu. Como ele, sou um cientista (na verdade, um matemático);
como ele, acredito na verdade; e, assim como ele, sou um professor
da Universidade de Oxford. Mas, diferentemente dele, sou um teísta
— um cristão, para ser mais exato. Não associo a existência de Deus,
como tal, à preocupação, mas, sim, à alegria. Na verdade, se fosse
impelido a criar uma propaganda para um ônibus, ela poderia ser
algo assim: “Existe boa evidência da existência de Deus. Confie nele
e experimente verdadeira alegria”. Naturalmente, estou ciente de
que Deus pode ser uma fonte de preocupação para os ateus. Afinal,
como Lucrécio observou, séculos atrás, se Deus existir, os ateus vão
encontrá-lo algum dia. Mais desse assunto ao seu devido tempo.
Richard Dawkins e eu nos envolvemos em dois grandes debates
públicos; o primeiro foi em Birmingham, Alabama, em 2007, quando
discutimos algumas das principais teses de seu livro best-seller The
God Delusion (Deus, um Delírio). 15 O segundo debate foi sobre a
questão “Has Science Buried God?“ (Por que a Ciência não Consegue
Enterrar Deus), que vem a ser o título de meu próprio livro. 16 Esse
último debate 17 aconteceu em 2008 no Museu de História Natural
de Oxford, o lugar onde, em 1860, Thomas Henry Huxley teve sua
famosa discussão com bispo Samuel Wilberforce sobre a obra de
Darwin The Origin of Species (A Origem das Espécies). O cenário era
tão incomum quanto dramático. Dawkins e eu estávamos sentados
sobre bancos altos, com a grande cabeça e as mandíbulas da obra-
mestra do museu, o esqueleto de um Tyrannosaurus Rex, elevando-
se ameaçadoramente sobre nós. O T-Rex certamente está extinto.