Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 52
mais alguns dolorosos meses de cárcere, tomou um rumo diferente
agora que ela tinha o que chama de “meu alicerce”. Tinha nas figuras
de Ananda, Rita, Doutora Isabel e Doutora Elisabete alguém a
quem recorrer. Com os documentos reunidos por Jean, o Conselho e
o Escritório Social intercederam por sua liberdade, que veio poucas
semanas depois. Desta vez, saiu sem nada que lhe restringisse os movimentos:
cumpriria o resto da pena em regime aberto.
Com intermediação do Escritório Social, arranjou emprego
em uma empresa que terceiriza mão de obra de seguranças, porteiros
e recepcionistas. Hoje trabalha cobrindo folgas ou faltas dos colegas
em diferentes pontos da cidade.
— Minha maior alegria é ir trabalhar.
Conseguiu também na empresa trabalho para uma amiga, que
conheceu nos tempos de PFP; para a mãe, em uma empresa de refeições
coletivas e para um vizinho, também ex-presidiário, em um
oficina em Fazenda Rio Grande. Às conhecidas que mantém da época
do tráfico e egressas que a procuram, oferece com propriedade
conselhos sobre onde buscar ajuda.
— Eu oriento as meninas. Falo que elas ajudam, mas também
digo que não fiquem se folgando.
Se preocupa com a possibilidade de que suas fadas madrinhas
percam tempo ajudando alguém que “não faz por merecer”. Trabalhadora
esforçada, foi promovida para uma posição de maior confiança
depois de alguns meses de serviço no atual emprego. O segredo
é que, para Renata, mais importante do que a ocupação em si, é a
devoção a ela dedicada:
— Não importa o que eu fizer, eu visto a camisa mesmo. Se eu
for traficar, roubar, matar, eu faço o que for preciso — explica com
um sorriso largo no rosto.
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