Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 50
porque é evidente que ele vai ter muito mais condições de ter um
recomeço junto da família. Alguém deve ter achado que era gasto
demais, cortaram. Funcionários da rodoviária nos ligavam e falavam
“olha, aqui tem presos pedindo esmola para comprar passagem”, e
então começamos a ajudar.
A ajuda tornou-se o projeto Volta para Casa, parte do programa
Recomeço, que embasa as ações do Conselho e contém mais 21
iniciativas, de suplemento alimentar para detentos adoecidos em
estado terminal à parcerias com instituições que oferecem cursos
profissionalizantes. O diferencial está nos detalhes. Doutora Isabel,
como é chamada por todo mundo que se refere a ela, explica.
— Nós damos a passagem e damos em espécie até 30 reais.
Como é que ele vai daqui à Foz do Iguaçu e não vai tomar um lanche?
***
Renata não precisou de passagem para outra cidade ou estado,
mas de outros tipos de auxílio. Da penitenciária, seguiu para a casa
de uma amiga, Naelly, e seu marido. Lá conheceu Jean, amigo do
casal, que frequentava a casa nos fins de semana. Em menos de dois
meses, os dois já dividiam aluguel em Fazenda Rio Grande.
Decidiu então tentar recomeçar a vida mais uma vez. Do
Conselho da Comunidade, recebia cestas básicas, e Jean teve um curso
de eletricista custeado pelo órgão.
— Se eu não passei fome dentro de casa, eu devo a elas. Se
não fosse isso, das duas, uma: ou eu tava morta ou tava na cadeia de
novo.
No fim do ano, o casal decidiu aproveitar o movimento no litoral
e trabalhar como ambulantes. Vendiam espetinho, água e refrigerantes.
Mas deixar a cidade, para uma monitorada, é considerado
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