Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 44
— De que adianta pegar uma menina de 18 anos que está
vendendo droga na rua e jogar ela dentro de uma penitenciária, junto
com mulher que está lá há dez, quinze anos, que mata, pica, esquarteja
e bebe o sangue?
Outra vida
É da natureza humana imaginar o que poderia ter acontecido
caso tal evento que determinou outro tivesse ocorrido de uma forma
diferente. Antes de ir morar no abrigo, Renata passou um tempo
morando com os padrinhos. O padrinho, seu Agenor, dizia querer
adotá-la formalmente. Só não o fazia por causa da madrinha, Luciana,
que não queria ter que dividir a herança com mais uma criança.
Às vezes, já morando na Casa, passava as férias e finais de semana
com eles.
Certo dia, depois de uma discussão envolvendo roupas que
emprestara de Silvinha, a filha do casal, desentendeu-se com a madrinha.
— Ela disse que eu ia me tornar uma bêbada drogada igual
minha mãe, e fazer um monte de filhos pro governo cuidar.
O desaforo bastou para que ela passasse anos sem frequentar a
casa dos padrinhos. Quando tornou-se integrante da Guarda Mirim,
fez questão de telefonar para Luciana e mostrar que sua vida ia muito
bem, obrigada. Do outro lado da linha, a madrinha estava chorosa.
Contou que seu Agenor tinha abandonado a família. Fora embora
com Clair, a senhora alegre e carinhosa que faxinava a casa dos padrinhos
desde que Renata conseguia se lembrar. Ficou feliz, adorava
Clair e sempre achara que ele ficaria melhor sem Luciana. Pediu o
telefone novo do padrinho, mas ouviu que ele não queria mais nem
saber dos filhos, quem diria dela. Não valia a pena correr atrás do
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