Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 43
A invenção lhe rendeu um emprego em uma oficina, mas também
feridas na perna causadas pelo atrito e obstrução da circulação do
sangue. Decidiu que não compensava.
Os sete anos passados em uma unidade prisional deixaram-
-lhe a certeza de que o sistema carcerário é permeado de injustiças.
Quando perguntada que medidas poderiam ser tomadas para combatê-las,
tem na ponta da língua logo três. A primeira chama de seu
“presídio-indústria”, mais indústria que presídio. Nele, que não teria
muros nem grades, todos os detentos e detentas estariam envolvidos
de alguma forma na indústria em questão, que poderia ser de qualquer
tipo. Aprenderiam o ofício, sairiam profissionalizados, ocupariam
os dias e contribuiriam para a economia do país.
Ela também tem planos que poderiam ser mais facilmente incorporados
ao sistema penitenciário assim como ele está posto hoje
no Brasil. Pensando nas detentas que não recebem sacolas da família
— são muitas, diga-se de passagem — e na grande quantidade de
lixo reciclável produzido mensalmente dentro das unidades prisionais,
sugere duas alternativas: o material reciclável poderia ser vendido
ou transformado em artesanato. Na primeira opção, os lucros seriam
revertidos para adquirir alimentos e demais mantimentos para
as sem-sacola. Na segunda, poderia ser vendido em feirinhas pela
cidade. O ideal, conta, seria valorizar a obra das meninas, divulgar
que se trata de produtos confeccionados por detentas do estado do
Paraná.
A terceira sugestão é também um convite a um olhar mais
humanizado e individualizado sobre as mulheres em cumprimento
de pena. Renata insiste que critérios mais subjetivos, como maturidade,
e o contexto de vida pessoal da infratora deveriam ser levados
mais a sério pelos juízes e juízas.
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