Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 41

— Naquela comida você encontra de tudo, é mosquito, barata, comida azeda… Dez minutos de loucura Renata sintetiza o conjunto de circunstâncias que leva alguém a entrar para o crime na seguinte equação: falta de oportunidade + falta de maturidade + desespero. — De certa forma a gente prejudica outras pessoas vendendo drogas ou roubando. Mas se você tem um filho doente, bate na porta dos outros pedindo dinheiro, nem todo mundo vai te ajudar. Se você chegar na farmácia, o cara não vai te dar o remédio. Às vezes você não sabe onde conseguir esse apoio. Hoje, afirma sua disposição em fazer qualquer coisa que não seja ilegal para não ter que voltar para uma penitenciária. Não quer saber de tráfico, assalto, roubo, furto, estelionato e variações. Mas não descarta a possibilidade de um homicídio cometido no calor do momento, questão de salvar a própria vida ou a de um ente querido. — Tá na lista de qualquer um, né? A gente nunca sabe. Isso porque, em sua teoria sobre a condição humana, toda pessoa, mesmo a mais calma delas, tem dentro de si um monstro: — Se chama os dez minutos de loucura. O bicho em questão aguarda apenas uma oportunidade para sair. Pode ser o momento de um assalto, um familiar que passa por uma emergência, uma palavra mal colocada. No cárcere, esse ser primitivo só faz ganhar força, despertado pela necessidade de sobrevivência. — Isso te endurece. Você se transforma ou vai morrer lá dentro em depressão. 41 | LEVANTE