Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 40
Ela estranhou quando as dores abdominais começaram a
aparecer. Mais ainda quando se recusaram a ir embora. Foi medicada
para dor de estômago na enfermaria da Penitenciária, mas a
agonia só fez piorar. Depois de alguns dias, passou a vomitar sangue,
notou o líquido vermelho também na urina e nas fezes. Encaminharam-na
para o Complexo Médico Penal (CMP), onde lhe administraram
remédios para a dor e um antiácido para o estômago.
De volta à PFP, a enfermeira da penitenciária disse suspeitar
de H. Pylore, bactéria que vive no estômago e cuja infecção deve
ser tratada com uma combinação de antibióticos e remédios para
controlar a dor. Tomou antibióticos por dez dias através de um
catéter, administrados pela enfermeira. Alguns anos mais tarde, a
servidora em questão seria exonerada após ser flagrada transportando
celulares dentro de pacotes de café para dentro de outra unidade
prisional que atendia. Renata lamenta o ocorrido:
— Era a única enfermeira que prestava lá.
Os antibióticos não surtiram o efeito pretendido. Em casos
com sintomas alarmantes, como o sangramento gastrointestinal
apresentado, a recomendação é a realização de um exame de endoscopia.
Até hoje, nunca fez o exame. Com o passar do tempo,
vai descobrindo o que pode ou não comer para evitar as crises.
Salgados, fritos ou assados, não são recomendados. Nem mesmo
banana. Em alguns dias, já acorda com dores fortes, vomitando, e
não consegue se alimentar ao longo do dia. Em outros, o sangue
jorra pelas fezes como se fosse o próprio xixi. Em outros ainda, passa
o dia bem e consegue fazer as refeições. Já buscou ajuda médica
depois de ter deixado a penitenciária, sem grandes melhoras, e hoje
acredita que não há o que fazer. Sobre o que causou o problema,
seja ele qual for, ela não tem dúvidas:
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