Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 39
Situação diferente encontrou quando esteve confinada com a
família. Tentou abandonar o impulso de brigar, grande motor de sua
vida, com medo de que a mãe ou as irmãs pudessem sofrer represálias.
Já que agora encontrava-se presa com suas habituais visitantes,
as visitas rarearam. Só dois primos apareciam, de vez em quando.
Um deles acompanhou-as até que a liberdade cantasse. Ia principalmente
para ver dona Cissa. Órfão de mãe, projetava um pouco nela a
carência do afeto materno. Hoje os dois moram juntos, um cuidando
do outro. Ela nunca buscou tratar a dependência química. Se ainda
usa drogas que nem antes, Renata não sabe dizer.
— Tenho as minhas desconfianças — responde após alguns
instantes de reflexão.
Passaram poucas e boas no confinamento. Em determinada
ocasião, foram todas para a tranca ao se negarem a assumir a posse
de certa quantidade de maconha supostamente plantada por uma
agente na cela que dividiam. Não que não possuíssem nenhuma, mas
aquela, explica Renata, não era delas. Comum, a punição coletiva
constitui, na verdade, em uma violação da Lei de Execução Penal.
Para que possa ser aplicada uma sanção disciplinar no ambiente prisional,
é preciso comprovar que a pessoa teve efetiva participação na
conduta proibida. Em casos em que a autoria não fique clara, no lugar
de que todos sofram a punição, o certo é que ninguém seja punido,
não importando a possibilidade de que uma ou duas das pessoas
reclusas na mesma cela tenham sido de fato responsáveis pelo ato.
Eliane, que a princípio tinha o menor tempo de condenação
entre as quatro, deu para brigar com outras internas, o que acabou
por retardar sua saída da penitenciária. Ainda hoje cumpre pena. Em
determinado dia, dona Cissa teve um mal súbito, foi entregue pela
filha mais velha quase morta nos braços de uma agente. A saúde de
Renata também não passou incólume pela vivência carcerária.
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