Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 37

Ao receber a notícia da morte, passou por momentos de inquietude e desespero. Teve dois sonhos: em um, o falecido lhe perseguia, com a cara inchada de um cadáver que passou dias no rio. Não entendia, afinal o marido fora baleado. Não conseguia deixar que ele se aproximasse, não sabia bem o porquê. No segundo, ele estava no final de uma escada de pedra cercada por um portão, muitos degraus abaixo. Andava até ela, que segurava em seu rosto inchado com as duas mãos. Teve que dar-lhe ela mesma a triste notícia: — Galego, você morreu. Diante de sua expressão confusa, teve também que deixar bem claro que ele não pertencia mais a este mundo. Depois dessa noite, não importava o quanto implorasse por um vislumbre do marido no mundo dos sonhos, ele nunca mais apareceu. Alguns dias depois, em conversa com a ex-sogra, ficou sabendo que, depois de ter as mãos amarradas, Galego fora largado para morrer, jogado de cabeça em um córrego largo. NAQUELA COMIDA VOCÊ ENCONTRA DE TUDO Renata foi condenada pela Justiça em dois processos. Da primeira vez, por tráfico e porte de arma. Da segunda, tráfico e associação para o tráfico. Se na primeira pena saiu em um ano e cinco meses, na segunda ficou presa de 2014 a 2017. Em sua primeira passagem, recebia visitas da mãe, da irmã Liliane e esporadicamente de Eliane, que ia apenas quando obrigada por dona Cissa. Elas sempre levavam sacola e prestavam a ajuda que ela estivesse precisando. Com exceção de Eliane: — Nem um crédito no celular colocou pra mim. 37 | LEVANTE