Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 36
você vai comprar pão na sua mãe ou vai lá na outra quadra? É claro
que você vai comprar pão na sua mãe.
Assim, Dona Cissa era freguesa assídua das biqueiras das filhas.
Mais do que isso, era grande incentivadora: sempre que promovia
casinhas de fumo em sua residência, ligava para Liliane e informava
a quantidade de crack requerida pelos participantes.
***
Enquanto a companheira cumpria pena, Galego, foragido, alçava
voos mais altos na carreira. Com alguns conhecidos, começou
a assaltar bancos. Armados com fuzis, levavam grandes montantes
de dinheiro. Era caçado pelos policiais, e com o tempo desentendeu-
-se também com os colegas de assalto. Não demorou muito para ser
encontrado morto. Renata levou alguns dias para receber a notícia.
Planejou tudo. Ia descobrir o assassino, pegar seu 38 e vingar
a morte do amado. O amor por Galego era amor que consumia. Perguntei
se ela não tinha medo de ir atrás de quem deu fim em um homem
tão temido. Recebi a seguinte resposta, em tom de obviedade:
— O plano não era eu voltar viva, não.
O tempo que ainda tinha a cumprir no xadrez, somado à descoberta
de algumas novidades, dissuadiram-na de ir encontrá-lo no
além. Dos milhares de reais surrupiados das agências bancárias, ninguém
nunca vira a cor. Nem a mãe de Galego, nem o pai, nem os
irmãos. Havia ainda boatos de que ele andava circulando com uma
nova namorada. A sogra negou:
— “A mulher dele é você, Re, só você”, ela me jurou.
Por fim, o finado foi-se embora devendo-lhe dinheiro. Com
sua prisão, suas armas e moto ficaram sob os cuidados do companheiro.
Nunca mais foram vistas.
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