Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 32
— Passamos muita dificuldade, pedimos na casa dos outros,
em lojas e restaurantes, para não fazer nada de errado.
Por fim, decidiram recorrer à mãe. Ficaram na casa dela até
o dia em que, depois de uma briga, ela e o padrasto saíram de casa,
Deus sabe para onde. Mais uma vez, sem terem como manter a casa,
o casamento pareceu o único caminho possível para as duas irmãs.
Ao longo da vida, já se casou mais de cinco vezes:
— A maioria dos meus casamentos foi tudo para sair de casa,
ter paz, ter uma estabilidade.
Seu novo marido era dependente químico e, após sofrer um
acidente de carro, deu para ser violento. No início, ela tentou relevar,
convencendo-se de que os relacionamentos devem durar nos bons
momentos e nos maus. Seria maldade abandonar o acidentado. Mas
na terceira vez em que ele levantou-lhe a mão, não houve argumento
que parecesse razoável.
— Eu já tinha sido traficante, mexia com arma, e ia ficar levando
na cara? Eu ia é colocar ele no lugar dele!
Saiu da casa dos pais dele, onde os dois moravam, e, tendo
retomado o contato com a mãe, buscou novamente refúgio
na casa dela, desta vez no município de Fazenda Rio Grande,
na Região Metropolitana de Curitiba. Seu primeiro sobrinho,
Luan, filho de Liliane, havia acabado de nascer em Joinville. O
menino tinha meningite e ficou um longo tempo internado. Boa
parte de seus recursos iam para ajudar a irmã a cobrir os custos
da estada na cidade e dos medicamentos e cuidados especiais
exigidos pela enfermidade. Diz ter perdido as contas das vezes
em que peregrinou pelos órgãos competentes tentando que o
sobrinho fosse transferido para um hospital em Curitiba, sem
sucesso.
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