Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 31

segundo estudo da fundação francesa Scelles, aproximadamente 40 milhões de pessoas no mundo — 75% delas mulheres de 13 a 25 anos — movimenta quase o mesmo valor no que diz respeito às atividades de cafetinagem e tráfico de mulheres na América Latina. O cálculo é da Organização Internacional de Migrações (OIM). No Brasil, mesmo nunca tendo sido regulamentada, a prostituição é considerada uma ocupação profissional desde 2002. Renata começou a traficar nas redondezas. A atividade não é tão evidente como pode parecer, ela deixa claro: para vender droga, tem que saber o que está fazendo. Quem a ensinou foi uma traficante que conhecia da vizinhança, sua amiga até hoje. Para fugir das brigas que nunca deixaram de ser rotina na casa da mãe, aos 17 anos foi morar com um rapaz, também traficante. Os apertos financeiros tiveram alívio, mas a vida não lhe aprazia: — Nunca foi a vida que eu quis. Conheceu outro moço, cuja família tinha uma empresa em Florianópolis. Ela, que sempre adorou a praia, viu a oportunidade de abandonar o tráfico e morar pertinho do mar. Não pensou duas vezes. Lá, arranjou emprego em um hotel de uma rede grande. Pouco tempo depois, uma de suas irmãs, Liliane, havia recém completado 18 anos e deixado o abrigo em que morava. Diante da incerteza do destino da irmã — não que o seu próprio tivesse um dia sido mais garantido —, Renata chamou-a para ir morar com ela na praia. Pouco tempo depois, descobriu que o parceiro a traía. Velho companheiro do tempo de adolescente, o ódio aflorou-lhe: queria bater nele, matá-lo, arrastar seu rosto no asfalto e sabe-se mais qual outra ideia lhe passou pela cabeça. O que aconteceu foi diferente. Tendo que deixar a casa do infiel e sem mais ter onde morar, ela e a irmã conheceram a realidade de dormir na rua e depender da misericórdia alheia. 31 | LEVANTE