Levante: A vida pós-cárcere de mulheres no Paraná Levante_Livro | Page 30

caso ganhou contornos diferentes: foi até a coordenadora do lar, Tia Damiana, que se desculpou pelo comportamento pouco empático da colega. Achava uma pena que ela decidisse pôr a perder todo o avanço dos últimos anos e encorajou-a a ficar, não faltava muito para que concluísse os estudos. Renata recebeu um prazo de três dias. Se, ao final do terceiro dia, não tivesse retornado, só então Tia Damiana notificaria o juiz. Passados os três dias, ela não retornou ao lar, e nem nunca mais. O jeito foi ir morar com a mãe, na casa que ela dividia com o padrasto na Vila Piratini, no bairro do Pinheirinho. Em uma busca rápida no Google, as únicas menções à Vila são em notícias sobre a violência nas favelas de Curitiba ou mortes de pessoas supostamente envolvidas com o tráfico de drogas. O padrasto bebia, e a mãe, que nunca largou o crack, dedicava-se à atividade de catadora de materiais recicláveis. Renata conseguiu emprego em uma companhia telefônica, tentava ajudá-los com as contas. Ao voltar do trabalho um dia, encontrou a casa revirada. Todos os seus pertences levados. Obra dos “noias” da comunidade, conta. — Levaram roupa, tênis, tudo. Fiquei foi sem nada. Largou escola, trabalho e não podia voltar ao abrigo que lhe servira de lar por boa parte da infância. — Eu só tinha duas opções, ou eu ia vender droga ou me prostituir. O tráfico de drogas, que movimenta cerca de R$ 17 bilhões por ano no Brasil, é considerado um crime hediondo contra a saúde pública. Desde a promulgação da Constituição de 1988, é inafiançável e sem anistia. Quem é condenado, pode pegar de 5 a 15 anos de prisão. A prostituição e a exploração sexual, situações nais quais estão, 30 | LEVANTE